Siga a folha

Repórter especial da Folha, foi correspondente nos EUA. É vencedora do prêmio internacional de jornalismo Rei da Espanha.

Precisamos falar de gerrymandering e hegemonia republicana no Legislativo

Democratas fizeram avanços importantes nos estados, que podem determinar futuro do partido

Funcionários do conselho eleitoral guardam cédulas em Phoenix, no estado americano do Arizona, dois dias após a eleição de meio de mandato nos EUA - Ross D. Franklin/Associated Press

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

Ganhou muito destaque o fato de os democratas terem conquistado o controle da Câmara nos Estados Unidos nesta terça-feira (6). 

Com a maioria dos deputados, eles poderão questionar de forma mais eficiente algumas iniciativas de Donald Trump e de legisladores republicanos, principalmente relacionadas a redução de impostos e corte de gastos sociais, e terão o poder de abrir várias investigações sobre o presidente.

Mas as eleições trouxeram para o Partido Democrata outro ganho, que teve menos repercussão do que deveria.

Os democratas conquistaram sete legislaturas estaduais e sete governos que antes estavam nas mãos dos republicanos. Com isso, diminuíram um pouco a enorme vantagem dos republicanos nos estados. 

Agora, o partido de Trump controla as duas casas (Câmara e Senado estaduais) em 30 estados, e os democratas, em 18. Além disso, o Partido Democrata agora detém o governo de 23 estados, diante de 26 dos republicanos (a Geórgia continua indefinida).

Esse avanço é muito importante, porque cerca de 800 dos políticos eleitos na terça-feira (6) participarão do processo de redefinição dos distritos a partir de 2020 (outros 5.000 serão eleitos no pleito de 2020).  

Os representantes americanos, equivalentes aos nossos deputados, são distritais. A cada 10 anos, os EUA fazem um censo para atualizar os números da população e redesenham os distritos. 

Na maioria dos estados, esse processo de redesenho de distritos é feito pelas legislaturas estaduais e, depois, aprovado pelos governadores.

E aí entra a prática chamada de gerrymandering, uma “homenagem” a um governador de Massachusetts do século 19, Elbridge Gerry, pioneiro da prática.

O propósito do gerrymandering é concentrar todos os apoiadores do partido rival em poucos distritos, e distribuir os apoiadores do seu partido em vários distritos, onde ele terá uma vantagem pequena, mas suficiente. O resultado é que seu partido ganha em vários distritos e perde em poucos, por muito.

Em 2010, o estrategista republicano Karl Rove liderou um esforço que batizou de REDMAP (Redistricting Majority Project).”Quem controla o processo de desenho dos distritos pode controlar o Congresso”, escreveu Rove em um artigo no Wall Street Journal, em 2010.

O partido concentrou esforços para vencer o maior número possível de legislaturas estaduais. Foi bem-sucedido e capturou 20 legislaturas que estavam nas mãos dos democratas.

A partir daí, com os resultados do censo de 2010, dedicaram-se a redesenhar os distritos usando inúmeras bases de dados e técnicas sofisticadas de “microtargeting” para segmentar o eleitorado. Definiram as fronteiras dos novos distritos de forma mais vantajosa possível para os republicanos.

Nas eleições de 2012, viu-se o tamanho do estrago —os candidatos democratas à Câmara e Senado obtiveram 1,4 milhão de votos a mais do que os republicanos, no país todo, mas os republicanos mantiveram o controle da Câmara com 234 assentos, diante de 201 democratas. Desde então, os republicanos consistentemente vêm obtendo vitórias legislativas, e um dos motivos é o REDMAP.

O avanço dos democratas nas legislaturas estaduais ainda não foi suficiente para reverter o domínio dos republicanos. Mas é o caminho certo para tentar interromper a hegemonia republicana no Congresso.

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas