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Repórter especial da Folha, foi correspondente nos EUA. É vencedora do prêmio internacional de jornalismo Rei da Espanha.

Maduro não vai enrolar o papa Francisco de novo

Ditador venezuelano está sendo abandonado pelos interlocutores mais compreensivos

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São Paulo

O papa Francisco deixou claro que não vai ser enrolado de novo por Nicolás Maduro.

O ditador venezuelano havia pedido ao papa que atuasse como mediador da crise venezuelana. Mas, segundo uma carta de resposta obtida pelo jornal italiano Corriere della Sera e publicada nesta quarta-feira (13), Francisco passou o recado que Maduro não vai usá-lo para ganhar tempo.

"Infelizmente todas as tentativas [de mediação] foram interrompidas porque o que foi decidido nas reuniões não foi seguido por gestos concretos para alcançar os acordos", diz Francisco, que, na carta, chama Maduro de “Excelentíssimo senhor Nicolás Maduro”, e não “presidente”.  

O ditador venezuelano, Nicolás Maduro, participa de reunião em Caracas, em 14 de fevereiro de 2019. - Presidência da Venezuela/Xinhua

Em 2016, o papa Francisco recebeu Maduro no Vaticano e designou enviados para ajudarem a mediar o diálogo entre o ditador e membros da oposição. A negociação era capitaneada pelos ex-líderes da Espanha, José Luis Rodríguez Zapatero, República Dominicana, Leonel Fernández, e Panamá, Martín Torrijos.

O enviado da Santa Sé a Caracas, Claudio María Celli, desistiu em janeiro de 2017 de retornar à Venezuela, após os pontos acordados em outubro de 2016 não serem cumpridos pelo governo.

Não foi só o papa Francisco que perdeu a paciência com Maduro. José Mujica, ex-presidente do Uruguai e ícone da esquerda, passou a pedir a convocação de eleições gerais como única solução para a crise. Maduro se recusa a convocar eleições gerais, e acena apenas com a realização de um pleito legislativo.

Presidente da Assembleia Nacional, de maioria oposicionista, Juan Guaidó se declarou presidente interino da Venezuela em 23 de janeiro, alguns dias depois de Maduro iniciar um novo mandato, conquistado em eleições contestadas. Guaidó foi reconhecido pelos Estados Unidos, Brasil, Colômbia, Chile, peru e vários outros países.

Até a esquerda venezuelana abandonou o ditador, conforme noticiou o colunista e repórter especial da Folha Clóvis Rossi. Segundo seu relato, 100 militantes da esquerda venezuelana, que se intitulam chavistas, lançaram manifesto em que se distanciam do governo de Nicolás Maduro e pedem a convocação de um referendo para que o eleitorado decida se concorda com a realização de eleições gerais.

“Exigimos que se produza a imediata restituição do regime de liberdades e garantias estabelecidas na Constituição, a liberdade de todos os presos políticos não incursos em delitos de lesa humanidade e graves violações dos direitos humanos, a reabilitação de organizações políticas e de seus porta-vozes, o fim da intimidação e da repressão maciça e seletiva dos dirigentes das comunidades que protestam e o respeito ao exercício pleno de seus direitos constitucionais" diz o texto dos esquerdistas.

A posição indefensável de impedir a entrada de ajuda humanitária no país foi o último prego no caixão de Maduro.

Agora, resta a ele encarar figuras bem menos compreensivas.  Elliott Abrams, indicado no fim de janeiro para ser o enviado especial dos EUA para a Venezuela, é um neoconservador que acredita firmemente na missão dos EUA de exportar democracia para outros países. Ele serviu nos governos Reagan e George W Bush.  

Abrams esteve envolvido no escândalo Irã-Contras, de financiamento dos EUA aos contras, a guerrilha contra o governo sandinista na Nicarágua, nos anos 80. Depois, ele foi um grande defensor da invasão do Iraque em 2003.

Em seu depoimento na Câmara dos deputados americana, na quarta-feira, Abrams garantiu que “armar a oposição na Venezuela é uma péssima ideia”, mas, ecoando o presidente Donald Trump, disse que todas as opções continuam, sobre a mesa, ainda que a diplomacia seja a via preferencial.  

Não parece alguém que Maduro consiga enrolar. 

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