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Repórter especial da Folha, foi correspondente nos EUA. É vencedora do prêmio internacional de jornalismo Rei da Espanha.

Linchamento virtual de jornalistas mulheres é cada vez mais comum

Estudo mostra que 63% das repórteres já foram ameaçadas ou assediadas online

A jornalista filipina Maria Ressa é detida no aeroporto internacional de Manila; ela já recebeu ameaças por reportagens que expuseram o governo do presidente Rodrigo Duterte - AFP

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Jornalistas têm sido crescentemente vítimas de intimidação nas redes sociais, com uso de estratégias sofisticadas para amedrontar, espalhar desinformação, desacreditar as repórteres e a mídia em geral, e prejudicar as carreiras das profissionais.

Isso é o que mostra a pesquisa “Attacks and Harassment: The Impact on Female Journalists and Their Reporting” (Ataques e assédio: o impacto sobre as jornalistas e suas matérias), da International Women’s Media Foundation e da TrollBusters.

Segundo a pesquisa, cerca de 63% das jornalistas já foram ameaçadas ou assediadas online, 58% foram ameaçadas pessoalmente e 26% foram atacadas fisicamente.

Entre essas profissionais, 40% afirmaram que passaram a evitar fazer certos tipos de matéria como resultado do assédio e das ameaças.

Para o levantamento, foram entrevistadas 597 jornalistas nos Estados Unidos e em outros países.

Entre as jornalistas que trabalham nos EUA e sofreram ataques online, 78% afirmam que o fato de serem mulheres foi um fator para virarem alvos. Entre as jornalistas trabalhando em outros países, esse índice foi de 68%.

“O ambiente online foi transformado em arma e usa a velocidade e suas redes para montar ataques sofisticados que amplificam misoginia, sexismo, racismo, homofobia e outros discursos de ódio”, diz o relatório.

“Contas falsas e impostores no Twitter semeiam desinformação. Tanto online como offline, o mundo se tornou um lugar muito mais perigoso para os jornalistas nos últimos 5 anos.”

No caso das mulheres, os ataques ganham contornos nitidamente misóginos, diz o estudo.

Os comentários frequentemente fazem referência ao corpo ou aparência das mulheres, e miram relações familiares ou pessoais. Comentários questionam o rigor intelectual e as credenciais profissionais das mulheres.

Há enormes consequências sobre o trabalho das jornalistas. “Elas às vezes fecham suas redes sociais e se autocensuram em relação a palavras usadas ou a assuntos que cobrem. Muitas desistem de continuar algumas investigações, rompem relações com fontes.”

Segundo o estudo, as jornalistas entrevistadas afirmaram que as intimidações online se tornaram mais visíveis e coordenadas nos últimos cinco anos.

“Extremistas e manipuladores usam canais online e a mídia para amplificar suas mensagens. Sejam ataques patrocinados pelo governo na Ucrânia, extremistas do alt-right nos EUA, o uso de bots e contas falsas, os ataques contra jornalistas se tornaram muito mais sofisticados, mais insidiosos e perigosos para jornalistas.”

Os principais tipos de ataques são, segundo as entrevistadas: grampear telefone ou gravar ligações, ameaças de morte, expor a identidade, roubo de dados, mensagens ameaçadoras, fotos de cunho sexual, ameaças pessoalmente, compartilhamento de informações privadas como número de telefone ou endereço, mensagens ameaçadoras deixadas no trabalho ou em casa, ataques de hackers.

“Uma coisa é criticar uma matéria, dizendo que a pessoa fez um trabalho ruim, isso é aceitável, outra coisa é fazer ameaças”, diz Gina Chen, diretora-assistente do Centro para Engajamento da Mídia na Universidade do Texas em Austin.

Segundo ela, há uma diferença sobre o tipo de crítica que se faz a uma jornalista mulher e a um homem. “Na nossa análise, quando as pessoas queriam criticar a matéria de uma jornalista mulher, elas sempre criticam usando o gênero, não dizem apenas sua reportagem é ruim, mas sim que ela é uma ‘vaca’, criticam sua aparência, se ela não tem 25 anos , chamam de velha e gorda.”

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