Doutora em economia, consultora de impacto social e pesquisadora do FGV EESP CLEAR, que auxilia os governos do Brasil e da África lusófona na agenda de monitoramento e avaliação de políticas
Primeira infância e a primeira pobreza
Garantir que crianças vivenciem seus primeiros anos longe da pobreza é um caminho inevitável para o sucesso das gerações futuras
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Não ficamos com muitas lembranças dos nossos primeiros anos de vida. Algumas pessoas se lembram de uma brincadeira, de primos ou amiguinhos que costumavam brincar juntos, da rua da casa em que cresceu, ou de algo específico de sua rotina que vai trazer sentimento de nostalgia por muitas décadas. Para quem sofreu traumas nesta fase, as memórias podem perdurar por um período excessivo.
Sejam positivas ou negativas, as experiências vividas na primeira infância, que corresponde aos primeiros seis anos de vida, têm um papel muito maior do que nossas parcas lembranças são capazes de capturar. Nesta fase, as estruturas cerebrais ainda estão se formando. Cada pequena descoberta que bebês e crianças fazem serão peças importantes para desenvolver habilidades complexas no futuro.
Assim, o desenvolvimento na primeira infância impulsiona o sucesso na escola e na vida. Consequentemente, investir em uma primeira infância de qualidade implica melhores resultados sociais em educação, saúde e econômicos. Por outro lado, permitir que milhões de crianças brasileiras não tenham acesso aos recursos necessários para um desenvolvimento pleno traz e continuará trazendo efeitos negativos para estes indivíduos e para a sociedade.
Os dados recém-divulgados da Pnad Educação (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua) de 2023 mostram que uma a cada três crianças de 0 a 3 anos que não frequentava a creche não havia conseguido vaga na rede pública. São famílias cujos cuidadores precisam trabalhar, mas não têm onde deixar os filhos para que desenvolvam as habilidades necessárias.
Recente estudo da Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal aborda a pobreza na primeira infância e o potencial das políticas de transferência de renda no desenvolvimento infantil. Usando dados do Bolsa Família, o estudo aponta que um pequeno aumento da renda recebida pelas famílias em situação de vulnerabilidade provocou uma redução na desnutrição infantil das crianças menores de 2 anos e de mulheres grávidas.
Contudo, o efeito medido ainda é pequeno, não é consistente ao longo do tempo e não é encontrado para crianças maiores. A fragilidade deste efeito pode estar associada à falta de serviços de qualidade voltados para as crianças e seus cuidadores. Só oferecer mais dinheiro ajuda, mas não é suficiente se os responsáveis continuam sem opções de creches de qualidade e serviços abrangentes de assistência social e saúde.
Ainda assim, estima-se que sem programas de transferência de renda, uma a cada quatro crianças de até 6 anos estaria em situação de pobreza. Garantir que todas as crianças vivenciem seus primeiros anos longe da pobreza é um caminho inevitável para o sucesso das gerações futuras.
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