Priscilla Bacalhau

Doutora em economia, consultora de impacto social e pesquisadora do FGV EESP CLEAR, que auxilia os governos do Brasil e da África lusófona na agenda de monitoramento e avaliação de políticas

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Menos celular significa estudantes mais (re)conectados

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O dia a dia nas escolas começou um pouco diferente para milhares de estudantes neste ano. A geração que já nasceu conectada agora enfrenta restrições no uso de celulares em algumas redes.

Aos alunos da rede pública municipal do Rio de Janeiro está vetado o uso de celulares nas dependências das escolas, inclusive nos intervalos. Os aparelhos já não eram permitidos em salas de aula desde o ano passado. Algumas exceções se aplicam, como em casos de alunos com deficiência, urgência ou emergência, ou quando autorizado pela equipe gestora da escola. O uso também é permitido para atividades pedagógicas específicas.

A medida adotada pelo Rio de Janeiro pode causar espanto e resistência, mas não surgiu do nada. Para embasar a decisão, foi realizada uma consulta pública pela secretaria municipal em 2023, cujos resultados apontam forte apoio de pais e responsáveis à proibição.

Medidas semelhantes de restrição ao uso do aparelho já são adotadas Brasil afora por escolas privadas e por professores que ousam enfrentar a lógica da sociedade digital em prol do ambiente pedagógico. No mundo, um em cada quatro países tem regulamento banindo ou restringindo o uso de celulares por estudantes nas escolas, de acordo com levantamento da Unesco publicado no ano passado.

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Suporte para alunos do ensino médio deixarem o celular em sala de aula da Escola da Vila, em São Paulo - Divulgação

A motivação para estabelecer tais restrições reside nos possíveis efeitos adversos que o uso de telas e mídias sociais traz para o cérebro em desenvolvimento de crianças e adolescentes. O uso excessivo de celular, tão potencializado na pandemia, afeta negativamente a capacidade de concentração, a interação social e a saúde mental. A dependência digital pode levar a problemas de sedentarismo e distorção de imagem, entre outras consequências. Isso é verdade também para adultos, mas afeta sobremaneira o desenvolvimento infanto-juvenil.

Apesar do consenso sobre os efeitos negativos do uso excessivo da tecnologia, ainda não se sabe se o banimento total do celular nas escolas é a melhor estratégia de mitigação. Em países que já adotam políticas análogas há mais tempo, existem evidências de redução do bullying digital e melhores resultados na aprendizagem.

A medida enfrenta resistência de alunos, já viciados no aparelho. Há também o risco de ser inócua devido a dificuldades de implementação. Mas a tendência é que se expanda para outras redes no país, pois tirar o celular do centro do processo educativo pode contribuir, no longo prazo, para retornar o foco para a interação social e o aprendizado.

A esperança é que a desconexão do celular possa gerar as desejadas reconexões: com a escola, com os colegas e com si próprio.

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