Jornalista e autor de "Escola Brasileira de Futebol". Cobriu sete Copas e nove finais de Champions.
O mercado do futebol brasileiro explodiu
A questão é se os craques daqui, irrelevantes para a Europa, garantem taça
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Há dois motivos para o mercado de janeiro ter explodido e alcançado o recorde de transferências entre clubes brasileiros: 1. Os times têm receitas maiores que há cinco anos; 2. Flamengo e São Paulo tentam convencer suas torcidas que os troféus não vão demorar.
Foram mais de R$ 170 milhões envolvidos em compras e vendas dentro do Brasil, um recorde para o qual contribuíram casos como o de Pablo, negociado pelo Athletico-PR com o São Paulo por 7 milhões de euros (R$ 31 milhões), e De Arrascaeta, a maior contratação da história do país, por quem o Flamengo pagou 15 milhões de euros (R$ 63 milhões).
O Flamengo já desembolsou R$ 85 milhões na janela. Além do uruguaio, pagou R$ 22 milhões por Rodrigo Caio. O clube carioca foi hábil para conseguir de graça a liberação de Gabriel, da Internazionale, mas pagará mais de R$ 1 milhão de salário. As duas maiores folhas de pagamento, de Palmeiras e Flamengo, aproximam-se de R$ 13 milhões mensais. São R$ 169 milhões por ano, 28% da receita prevista dos times mais ricos do país.
Há dez anos, a receita anual do Corinthians era de R$ 70 milhões. O Corinthians deixou de ser parâmetro, porque estacionou sua arrecadação na casa dos R$ 400 milhões, e os mais ricos arrecadam R$ 600 milhões por ano. Mas aumentou cinco vezes sua receita e, mesmo arrecadando menos, venceu dois Brasileiros nos últimos quatro anos.
Aí está o xis da questão. Os craques do mercado de janeiro garantem taças?
Para o Brasileiro melhorar será preciso contratar e manter jogadores. A palavra-chave é relevância. De Arrascaeta não tinha mercado na Europa. Nem Pablo. Gabriel recebeu sondagem do Everton, mas não poderia jogar na Premier League por causa da cláusula de barreira que impede a contratação de quem não tem passaporte europeu nem o mínimo de 30% de convocações por sua seleção. Todos os citados são tão bons quanto inexpressivos na Europa. Assim como Dudu, craque do Brasileiro.
O Flamengo vendeu a revelação Vinicius Junior e contratou o artilheiro Gabriel. O Real Madrid preferiu ter Vinicius Junior para os próximos anos. A Inter não quis Gabriel, que dá mais segurança de resultado imediato ao Flamengo do que Vinicius. Em compensação, custa dez vezes mais.
A temporada começa com os clubes mais ambiciosos divididos em três camadas. Flamengo e Palmeiras são os compradores. Os rubro-negros compram para voltarem a ganhar títulos, os palmeirenses para manter e ampliar a história recente de conquistas.
Em outro patamar, estão Grêmio e Corinthians. Gastam menos e se mantêm competitivos. A janela corintiana custou R$ 21 milhões, um terço do Palmeiras, um quarto do Flamengo.
No meio do caminho está o São Paulo. De janeiro a abril de 2018, o Morumbi desembolsou R$ 34 milhões. Neste janeiro, foram R$ 39 milhões por Pablo e Hernanes. Sua dívida diminuiu e a seca de títulos já dura seis temporadas. Se não voltar a ser campeão não vai crescer a arrecadação. “Como os campeonatos estão pagando mais, pela primeira vez parece que este investimento pode se tornar viável”, diz o consultor e sócio-diretor da Sports Value, Amir Somoggi. Pode...
Quem tem boa relação dívida-receita pode ser agressivo. A pergunta é se os craques mais caros daqui, sem mercado na Europa, garantem sucesso.
Nos últimos cinco anos, o único brasileiro campeão da Libertadores foi o Grêmio, de folha de pagamento média, contratações baratas e bons atletas formados em casa. Mudar o patamar de qualidade do nosso futebol exige boas ideias. 2019 pode mostrar se o dinheiro é capaz de comprá-las.
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