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Jornalista e autor de "Escola Brasileira de Futebol". Cobriu sete Copas e nove finais de Champions.

Palmeiras e Flamengo fazem a final bipolar na Libertadores

Há três meses que Maracanã e Allianz transformam o êxtase em ódio no intervalo de um gol

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Os muros do Ninho do Urubu amanheceram pichados em 3 de novembro, uma quarta-feira, a 24 dias da final da Libertadores: "Renato burro!". O Flamengo havia completado quatro partidas sem vencer.

Quarenta dias antes, uma das torcidas uniformizadas do Palmeiras divulgou manifesto promovendo contagem regressiva pela saída de Abel Ferreira e do presidente Maurício Galiotte.

A derrota para o Corinthians foi o gatilho. Um mês antes, uma atuação excelente deu a vitória por 3 a 0 sobre o São Paulo e colocou os palmeirenses nas semifinais da Libertadores. Não houve documento de apoio, exceto os gritos de gol.

Aquela derrota no dérbi marcou o segundo de uma série de sete jogos sem vitórias da equipe de Abel Ferreira. O terceiro sem vencer foi o empate contra o Atlético-MG, que classificou o Palmeiras para a final da Libertadores, por causa do gol fora de casa, empate por 1 a 1 no Mineirão.

Em Belo Horizonte, o técnico português desabafou no gol da classificação, foi contido pelo diretor Cícero de Souza e respondeu na entrevista coletiva que pretendia apenas extravasar contra um "vizinho chato".

Abel Ferreira comandará o Palmeiras em sua segunda final de Libertadores - Cristiane Mattos - 14.ago.2021/Reuters

Seguiram-se o empate com o Juventude, a derrota para o América-MG e a debacle por 4 a 2 para o Bragantino, que provocou pichações nos muros do Allianz Parque: "Abel, seu vizinho tem razão!".

Pichação não é algo engraçado.

À sequência de sete partidas sem vitória, seguiu-se outra de sete sem perder, enquanto o Flamengo debatia Renato Gaúcho, pela eliminação na Copa do Brasil e derrota no Fla-Flu. Em 28 de outubro, o UOL publicou: "Renato Gaúcho não tem mais condição de continuar no Flamengo".

O gol de Bruno Henrique aos 49 minutos do segundo tempo contra o Corinthians, na quarta-feira (17), inibiu as críticas e produziu elogios. O empate provocaria reflexões sobre um time de pouco repertório, que cruza mais de trinta vezes contra um adversário fechado. A vitória impulsionou os olhares sobre a atuação de uma equipe que gosta de jogos grandes.

De fato, o Flamengo ganhou 22 dos 27 pontos disputados contra os seis melhores times do Brasileiro, e o Palmeiras só ganhou um 1 em oito confrontos contra esses adversários.

A torcida é especial e o Maracanã com 48 mil pessoas é mais bonito do que o Cristo Redentor ou o Pão de Açúcar, o que ajuda a construir o cenário da grande vitória.

O Allianz Parque pintado de verde com 35 mil vozes também amplifica a derrota para o São Paulo.

Luciano comemora gol na vitória do São Paulo sobre o Palmeiras no Allianz - Carla Carniel/Reuters

O problema é que os dois palcos convivem com a dor e a delícia e, há três meses, transformam o êxtase em ódio no intervalo de um gol.

Alguém dirá que o futebol sempre foi assim, mas parece pior com animadores de auditório travestidos pelo bonito nome de influenciadores. Respeitados e ouvidos nas entrevistas coletivas de treinadores, mais do que repórteres de jornais, portais, emissoras históricas de rádio e TV.

Que a pluralidade perdure, desde que acompanhada de responsabilidade. Se depender da audiência de uma só torcida, como algum novo canal, destes que participam das coletivas, poderá ponderar e dizer: "Perdeu, mas jogou bem".

E se depender do dinheiro de anúncios de sites de apostas?

O nosso jornalismo esportivo tradicional também está, há cem anos, em busca de sua Semana de Arte Moderna, como escreveu Paulo Mendes Campos. Também não ajuda ter dirigentes que plagiam, sem perceber, velhas frases do Absolutismo, como uma atribuída a Luis 14: "O Estado sou Eu!".

O Flamengo somos nós. O Palmeiras somos nós.

E o que dá medo é que, dia 27, alguém vai perder.

Esse deverá ser o dia do culto à vitória. Pode apostar que vai haver quem fará o grande manifesto à derrota.

Erramos: o texto foi alterado

Versão original da coluna trazia o substantivo feminino "debacle" acompanhado de artigo masculino: "o debacle". O correto é "a debacle". Texto já foi corrigido.

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