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Jornalista e autor de "Escola Brasileira de Futebol". Cobriu sete Copas e nove finais de Champions.

Dá para melhorar

Brasil ainda está muito longe do que precisa ser nas Olimpíadas

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A estupenda Olimpíada das mulheres não esconde a mediana trajetória do Brasil. Sempre com o cuidado de não parecer o chato, que sai da festa dizendo que adorou tudo e ponderando: a comida estava fria e a cerveja, quente.

Paris foi de Rebeca Andrade, acima de tudo, de Bia Souza, acima de todos, mas deve ser do número de medalhas de ouro, melhor do que Londres-2012, pior do que Rio e Tóquio.

O Brasil pode mais.

Ginasta Rebeca Andrade com medalhas conquistadas em Paris - AFP

Adorei Zeca Camargo nos ensinar que Madame de Pompadour foi a favorita de Luís 15 e que a ela se atribui a frase "après nous, le déluge!"

Depois de nós, a inundação, ao pé da letra.

Favorita, neste caso, é eufemismo de amante, de modo que devemos esquecer de uma vez por todas o tempo do absolutismo, de Luís 15. Precisamos evoluir muito ainda, porque houve recentemente quem repetisse frases do rei Sol (Luís 14), como "o Flamengo sou eu!"

Nestas Olimpíadas, como sabemos, o Flamengo é Rebeca. Um dos memes mais incríveis tem a campeã postada, no pódio, o narrador anuncia o hino mais lindo do mundo e eis que... "Uma vez Flamengo, sempre Flamengo!"

Voltemos à festa, à comida fria e à cerveja quente.

É possível compreender o desempenho, porque o país ainda não é multiesportivo. Melhorou, mas é um país de mais de 200 milhões de habitantes, com litoral de 7.367 quilômetros, onde se pode praticar surfe, natação, canoagem e iatismo, e com 20% da população abaixo de 14 anos.

O Brasil foi 22º lugar em Londres, 13º no Rio, 12º em Tóquio, 19º em Paris, antes de computar as medalhas do futebol feminino e do vôlei de praia.

A Austrália foi sede olímpica em 2000. Saltou de sétimo para quarto lugar de Atlanta-1996 para Sydney. Até quinta-feira (8), estava em terceiro. Faz 24 anos que os Jogos aconteceram em território australiano e o país se mantém no topo.

O caso espanhol, com todo o sucesso de Barcelona-1992, é mais parecido com o brasileiro. De 25º em Seul-1988 para sexto na Catalunha, caiu para 13º em Atlanta, está em 19º. Claro que a classificação pode mudar e está se transformando enquanto você lê.

O Brasil é maior do que a Austrália. Nossa cultura esportiva, não. Por isso, reclamamos da arbitragem da ginástica, que tira medalha de Rebeca na trave e, depois, ouvimos a própria atleta dizer que seu grau de dificuldade justifica a nota. Por outro lado, os casos de indignação indicam interesse e este pode levar a mais jovens atrás do esporte e, no futuro, a mais medalhas.

A comida quente e saborosa e a bebida gelada são o desempenho das mulheres. Meu eterno orgulho de saber que minha filha escreve com a mão direita e chuta com o pé esquerdo foi retratado outro dia numa conversa informal. A resposta foi: "Nem sabia que alguém pode ser destro de mão e canhoto de pé". Nem o filho, nem a filha, nem o vizinho, nem o amigo, nem a amiga...

"Minha filha tem uma bomba" foi coluna escrita por este colunista no diário Lance!, em 2008. Era o dia da final olímpica contra os Estados Unidos, vencida pelas norte-americanas por 1 a 0, gol de Carli Lloyd.

Melhorou e ainda está muito longe do que precisa ser.

Havia filas de crianças em Guarulhos procurando a escola de ginástica artística, para tentar seguir os rumos de Rebeca Andrade. É muito valioso, mas é a semana seguinte à medalha.

O exemplo deve ser o que o tênis não fez com o efeito Gustavo Kuerten e o que precisa ser feito a partir dos novos heróis olímpicos. Para que daqui a quatro anos, tenhamos homens e mulheres somando medalhas e se aproximando do exemplo da Austrália.

Não estamos falando de China e Estados Unidos.

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