O número de vítimas da queda do avião da Voepass no município de Vinhedo, a 79 km da capital paulista, subiu para 62. Pouco antes das 19h deste sábado (10), a força-tarefa formada por bombeiros, peritos e policiais civis e federais concluiu o resgate dos corpos, sendo 34 de homens e 28 de mulheres. Dois deles foram identificados —o piloto e o copiloto do voo.
"O que era mais urgente e a nossa prioridade foi cumprido", disse a tenente Olivia Perrone, porta-voz do Corpo de Bombeiros. A sequência dos próximos passos da operação no local de acidente, como a continuidade da perícia científica e a retirada dos destroços, serão definidos durante uma reunião com vários órgãos na noite deste sábado.
A retirada das últimas vítimas era a mais difícil pelo fato de estarem nas partes central e traseira da aeronave, que foram mais atingidas pelo fogo e prensadas pelo impacto da queda.
Todos os corpos resgatados seriam levados para o IML (Instituto Médico-Legal) Central da cidade de São Paulo para identificação. Até a noite deste sábado, 50 haviam sido transportados para a unidade.
Segundo o tenente Araújo Monteiro, da Defesa Civil, 17 famílias já passaram por atendimento no Instituto Oscar Freire, que inclui coleta de material genético, entrevistas para colher informações que possam ajudar na identificação dos corpos e orientação jurídica e psicológica.
"É um processo trabalhoso. Cada entrevista, por exemplo, pode levar mais de uma hora", explicou ele. Outras cinco famílias já estão aguardando pelo atendimento em hotéis fornecidos pela companhia aérea, e há ainda uma família de uma vítima portuguesa vindo de Portugal.
A assessoria jurídica às famílias das vítimas está sendo prestara por promotores de Justiça e defensores públicos tanto do Paraná quanto de São Paulo, que trabalham em conjunto.
Maycon Cristo, porta-voz do Corpo de Bombeiros, o resgate começou pela parte da frente da aeronave, menos atingida pelo fogo após a queda.
Ele disse que os "corpos estão como se estivessem sentados em seus respectivos assentos".
"Para quem viu imagens aéreas, o avião caiu como se estivesse chapado no chão. A gente está com o desenho da aeronave no chão", explicou Cristo. As posições estão sendo usadas para identificar o corpo das vítimas. Os primeiros a serem identificados foram piloto e copiloto.
Na manhã deste sábado, a tenente Olívia Perrone disse que o trabalho de resgate foi acelerado na manhã deste sábado por causa da claridade do dia.
A aeronave caiu na sexta-feira (9), durante viagem de Cascavel (PR) a Guarulhos (Grande São Paulo), na área de uma casa no condomínio Recanto Florido, no bairro Capela. Imagens feitas por moradores mostram o avião em queda livre e, na sequência, uma explosão seguida por muita fumaça.
O acidente matou os 58 passageiros e os quatro tripulantes que estavam a bordo. Inicialmente, foi divulgado que 61 pessoas estavam no avião. Mas, neste sábado (10), a Voepass afirmou que o nome de um passageiro, Constantino Thé Maia, não constava da lista de embarcados.
A aeronave, que decolou às 11h50 e tinha previsão de chegada às 13h40, perdeu 3.300 metros de altitude em menos de um minuto a partir das 13h21, segundo o site Flight Aware, que monitora voos em tempo real ao redor do mundo.
Registros do site mostram que o bimotor começou a perder altitude às 13h20, quando estava a cerca de 5.100 metros. Cerca de um minuto depois, atingiu 1.798 metros, no último registro disponível.
Segundo a Força Aérea Brasileira, o avião deixou de responder às chamadas do Controle de Aproximação de São Paulo às 13h21. O piloto não teria declarado emergência ou reportado estar sob condições meteorológicas adversas.
A Voepass, dona da aeronave, disse que ainda não tem informações sobre a causa do acidente. O CEO da companhia aérea, Eduardo Busch, afirmou ainda que tudo o que tem circulado nas redes sociais é especulação.
Nas primeiras horas após o acidente, especialistas em aviação ouvidos pela Folha levantaram duas hipóteses principais para o caso com base nos primeiros detalhes, ressaltando que é cedo para determinar as causas.
Vídeos do momento da queda mostram que a aeronave desceu rodopiou no ar, mantendo-se em posição horizontal, manobra conhecida como "parafuso chato". Essas condições, segundo especialistas indicam que o piloto havia perdido o controle da aeronave e as condições de arremeter —ou seja, apontar o nariz da aeronave para baixo e usar os motores para ganhar novamente sustentação no ar.
O especialista em segurança de voo Roberto Peterka levantou a possibilidade de que gelo tenha se acumulado nas asas da aeronave. Já o engenheiro Hildebrando Hoffman, professor aposentado de Ciências Aeronáuticas da PUC-RS (Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul), citou a hipótese de que tenha ocorrido uma falha na posição das hélices.
Ambas as hipóteses teriam afetado a capacidade de tração da aeronave. Eles descartaram a possibilidade de falha elétrica ou no motor, pois há sistemas auxiliares que normalmente não fariam com que o avião caísse em queda livre, como se vê nas imagens. A pane seca também está descartada, uma vez que o combustível queimou no solo, após a queda.
O avião era um ATR-72, fabricado em 2010 e tinha certificados de matrícula e de aeronavegabilidade válidos, segundo a Anac (Agência Nacional de Avião Civil). O voo contava com quatro tripulantes a bordo no momento do acidente e todos estavam devidamente licenciados e com as habilitações válidas.
"A aeronave estava regular, em todas as condições de aeronavegabilidade. Temos a rastreabilidade desde que a aeronave foi construída e isso será levantado e a informação será prestada à investigação feita pelo Cenipa", disse o diretor da agência, Luiz Ricardo.
A caixa-preta do avião foi recuperada, de acordo com o Cenipa (Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos), da Força Aérea Brasileira. O acidente foi considerado de alta complexidade e havia uma preocupação de que altas temperaturas pudessem ter danificado os equipamentos.
A unidade de São Paulo, Cenipa 4, disse ter conseguido encontrar os gravadores, nas siglas em inglês, CVR, o cockpit voice recorder, e o FDR, flight data recorder. O primeiro grava vozes da cabine e o outro dados do voo, como altitude, meteorologia, velocidade, dentre outros.
Vítimas do voo 2283
PASSAGEIROS
- Constantino Thé Maia
- Rosangela Souza
- Eliane Andrade Freire
- Luciani Cavalcanti
- José Fer
- Denilda Acordi
- Maria Auxiliadora Vaz de Arruda
- José Cloves Arruda
- Nélvio José Hubner
- Gracinda Marina Castelo da Silva
- Ronaldo Cavaliere
- Silvia Cristina Osaki
- Wlisses Oliveira
- Hialescarpine Fodra
- Daniela Schulz Fodra
- Regiclaudio Freitas
- Simone Mirian Rizental
- Josgleidys Gonzalez
- Maria Parra
- Joslan Perez
- Mauro Bedin
- Rosangela Maria de Oliveira
- Antonio Deoclides Zini Júnior
- Kharine Gavlik Pessoa Zini
- Mauro Sguarizi
- Leonardo Henrique da Silva
- Maria Valdete Bartnik
- Renato Bartnki
- Hadassa Maria da Silva
- Raphael Bohne
- Renato Lima
- Rafael Alves
- Lucas Felipe Costa Camargo
- Adrielle Costa
- Laiana Vasatta
- Ana Caroline Redivo
- José Carlos Copetti
- André Michel
- Sarah Sellalanger
- Edilson Hobold
- Rafael Fernando dos Santos
- Lizibba dos Santos
- Paulo Alves
- Pedro Gusson do Nascimento
- Rosana Santos Xavier
- Thiago Almeida Paula
- Adriana Santos
- Deonir Secco
- Alípio Santos Netos
- Raquel Ribeiro Moreira
- Adriano Da Luca Bueno
- Miguel Arcanjo Rodrigues Junior
- Diogo Avila
- Luciano Trindade Alves
- Isabella Santana Pozzuoli
- Tiago Azevedo
- Mariana Belim
- Ariane Risso
TRIPULANTES
- Debora Soper Avila (comissária de bordo)
- Rubia Silva de Lima (comissária de bordo)
- Humberto de Campos Alencar e Silva (copiloto)
- Danilo Santos Romano (comandante)
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.