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Jornalista e autor de "Escola Brasileira de Futebol". Cobriu sete Copas e nove finais de Champions.

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Descrição de chapéu Olimpíadas 2024

A vitória de prata

Brasil só vai voltar a ser o país do futebol quando esporte for de meninas e meninos, homens e mulheres

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O apito final de Estados Unidos 1 x 0 Brasil teve festa norte-americana e tristeza brasileira, contraste com a cena de cinco minutos mais tarde, quando terminou a decisão de terceiro e quarto lugar que deu ao Brasil sua vigésima medalha, bronze no vôlei das mulheres.

Estranha lógica olímpica em que se chora pelo segundo lugar e se festeja o terceiro.

A história recente do esporte indica que houve mais sucesso das mulheres no vôlei do que no futebol, porque, com as mãos, a seleção de José Roberto Guimarães já ganhou duas vezes o ouro, inédito no futebol feminino.

Lindsey Horan disputa bola com Duda Sampaio - Patricia de Melo Moreira/AFP

O primeiro tempo de Estados Unidos x Brasil foi de absoluto domínio do time de Arthur Elias, Marta e Gabi Portilho. Ludmila teve a chance de fazer 1 x 0 na primeira jogada, logo depois do apito inicial. Mais tarde, marcou, mas o gol foi anulado por impedimento.

Com as melhores chances e o time mais bem postado em campo, quem esteve mais perto de abrir o marcador sempre foi o Brasil.

Até que, aos 12 da segunda etapa, Swanson aproveitou o mau posicionamento do lado direito da defesa, infiltrou-se e tocou na saída de Lorena.

Até Tom Cruise, presente ao Parque dos Príncipes para a finalíssima, percebeu que não havia Missão Impossível Parte 3, depois das derrotas brasileiras para as norte-americanas, nas prorrogações de Atenas-2004 e Pequim-2008. Apesar de Swanson ter marcado no minuto 57, sem necessidade de tempo suplementar, esta foi a decisão mais difícil.

Edinho, filho de Pelé, diz que na década de 1980 disputava mais partidas de basquete e beisebol, em Nova York, porque via o esporte do qual seu pai foi rei como "de meninas."

Razão pela qual sabe-se até hoje que os Estados Unidos representam a nação mais desenvolvida na modalidade entre as mulheres. Cinco vezes campeãs olímpicas, em oito edições, quatro vezes vencedoras da Copa do Mundo, em nove participações.

A grande diferença ainda está neste quesito. Pais e mães brasileiros ainda dão de presente uma bola para o filho, e a menina passa longe dos campos, na maior parte das vezes. Quando a Fifa criou a Copa do Mundo, tardiamente, 61 anos depois do início dessa história para os homens, as forças europeias estavam na Escandinávia. Noruega, Suécia, em menor escala a Alemanha.

O investimento de Espanha, Inglaterra e França mudou esse cenário. Foi a partir da obrigatoriedade de Barcelona, Real Madrid e Atlético terem equipes femininas. Na Inglaterra, o Chelsea montou um timaço, sete vezes campeão da Super League sob o comando de Emma Hayes, a treinadora campeã olímpica dirigindo as norte-americanas.

A derrota se explicaria por todas estas razões.

A medalha de prata é uma vitória, por tudo isso.

Arthur Elias assumiu o comando depois da pior campanha de todos os tempos em Copas, sob a direção de Pia Sundhage. Chegou tentando convencer as jogadoras de que serão campeãs olímpicas ou mundiais. Lembre-se de que o próximo Mundial será disputado no Brasil, em 2027. Se for bem organizado e difundido, pode servir de incentivo para muitas outras crianças entrarem na modalidade.

Em Paris, a seleção quebrou o tabu contra a França, venceu as campeãs mundiais espanholas, compreendeu que jogar com Marta é bom, mas haverá vida depois dela, conheceu outros modelos táticos, conseguiu atacar as norte-americanas, mesmo defendendo-se com linha de cinco zagueiras.

Falta agora um pouco mais de investimento dos clubes brasileiros. Também das famílias. O país do futebol só vai voltar a ser aqui quando for de meninas e meninos, homens e mulheres.

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