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Editora do prêmio Empreendedor Social, editou a Revista da Folha. É autora de “As Meninas da Esquina”.

Descrição de chapéu Copa do Mundo 2022

Bela, recatada e fashion, muçulmana usa Copa contra preconceitos

Brasileira de origem árabe, Carima Orra combina futebol, religião, moda e lifestyle nas redes sociais durante o Mundial no Qatar

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Doha (Qatar)

Muçulmana radical no Qatar. Carima Orra resume assim as experiências como uma brasileira descendente de libaneses e palestinos que chama atenção em meio à torcida verde-amarela que assiste in loco a Copa do Qatar.

Em postagens no Instagram ao longo da primeira semana de Mundial, ela aparece de burquíni pilotando um jet ski na baía da capital Doha, envolta na bandeira brasileira na cerimônia de abertura ou no meio da torcida vibrando pelos dois gols de Richarlison na vitória do Brasil contra a Sérvia por 2 a 0.

Casada e mãe de três filhos, a bela e recatada muçulmana de 29 anos deixou o marido e as crianças no Brasil para produzir conteúdo para redes sociais no megaevento, realizado pela primeira vez em um país islâmico.

Fã de futebol e de moda, a brasileira Carima Orra levou para a Copa do Qatar véus e roupas fashion nas cores da bandeira e de acordo com os preceitos de sua fé muçulmana - Gabriela Biló /Folhapress

"Minha mãe é apaixonada por futebol e eu sou alucinada pelo clima de Copa. Tínhamos que vir para a primeira em um país árabe", diz Carima, munida de modelitos bem-comportados para torcer pela seleção brasileira.

Para além de torcer, a influenciadora produz fotos, vídeos e tutoriais em que apresenta para seus 225 mil seguidores uma mistura de futebol, religião, moda e lifestyle.

A maratona de blogueira muçulmana antenada e fashion começou no aeroporto de Guarulhos no sábado (19), onde Carima e a mãe, Samia Musa, posaram ao lado de malas amarelas com o número 10 e os nomes das donas impressos em tons de verde.

Criada nos preceitos da fé islâmica em São Paulo, onde nasceu, a também empresária de moda tenta quebrar preconceitos e estereótipos sobre mulheres que usam a abaya (túnica longa e solta) e o hijab (véu que lhe cobre os longos cabelos castanhos).

A vestimenta é uma profissão de fé, uma escolha, diz.

Já o estilo bem fashion serve como ferramenta para quebrar o estereótipo de mulheres muçulmanas vestidas de negro da cabeça aos pés, reprimidas e sem vontade própria.

Faz questão de aparecer em looks vistosos, véus de grifes famosas e está sempre com o rosto de traços harmônicos perfeitamente maquiado.

Formada em marketing digital, Carima usa com profissionalismo a força das redes sociais como expoente de um segmento fashion conhecido como "moda modesta".

Ela traduz o conceito, explicando não se tratar de um modo simplório ou básico de se vestir. "É um estilo mais recatado de roupas, que valoriza mais as peças do que o corpo, com saias e vestidos longos, modelagens amplas, mangas compridas, sem decotes nem cintura ou quadris marcados."

Carima afirma que, embora as muçulmanas sejam as maiores consumidoras, há adeptas como estilo de vida em que o corpo feminino fique mais preservado.

"A moda modesta pode ser usada por qualquer pessoa que se identifique", diz.

No seu caso, a adesão é, sim, por razões religiosas. "Sou uma muçulmana moderna e não me envergonho de me vestir dessa maneira."

É uma adepta do véu que alardeia em tutoriais como combinar lenços e modelitos recatados. Aparece tanto em fotos glamourosas, endossando longos brilhantes de festas, quanto de tênis All Star.

A influenciadora digital vislumbra a Copa do Qatar e o apelo midiático do esporte mais popular do mundo como vitrines para mostrar a força de uma parcela de consumidoras que ajudam a movimentar US$ 327 bilhões por ano.

Segundo cálculos de Carima, com base em dados de mercado de luxo, a clientela muçulmana já representa 40% do faturamento de grandes grifes internacionais.

Em um vídeo, ela elenca cinco razões para as marcas levarem em conta esse nicho importante. Cita o fato de gigantes como Louis Vuitton e Dolce & Gabanna terem uma aba nos seus sites de ecommerce para hijabs, acessório obrigatório para muçulmanas que optam ou são obrigadas a usar o véu.

A opressão às mulheres muçulmanas é vista por Carima muito mais como uma questão política do que religiosa.

Razão pela qual a influenciadora digital já chegou ao Qatar rebatendo um post de ninguém menos que Anitta sobre um Mundial atacado quanto aos direitos humanos e à condição feminina e LGBTQIA+.

"E discriminar os outros é parte de cultura agora? Lá mulher não pode entrar em estádio não, ok?", criticou a cantora no Twitter.

Carima respondeu no Instagram em vídeo em que aparece de véu e envolta na bandeira brasileira dentro do estádio. "Estou pronta para assistir à abertura da Copa daqui de dentro", disse.

Ela aparece ainda a caminho da cerimônia no meio da torcida Movimento Verde Amarelo Brasil, onde garante estar à vontade.

Usa tênis da moda, calça pantalona branca, blusa amarela e lenço azul, com a bandeira enrolada na altura do pescoço. Contempla todas as cores do símbolo nacional seja no meio do batuque seja rezando pelo hexa na visita à maior mesquita qatariana.

Sua figura causa estranheza entre gringos e brazucas. "As pessoas no Brasil não acreditam que eu sou brasileira porque estou me vestindo assim. E no Qatar também não acreditam pelo mesmo motivo. Ninguém me conhece como tal, mas eu sou brasileira e tenho muito orgulho disso."

Ao reafirmar a identidade, ela também faz uma declaração de fé: "Minha religião é a minha nacionalidade".

Assim como o Qatar quer usar a Copa para projetar uma nova imagem do país, Carima, em uma outra dimensão, tenta passar uma nova imagem do Islã durante o Mundial, o que faz também durante sua rotina de mãe, esposa e empresária.

Conta com encorajamento materno, companheira de viagem e assistente na hora de gravar vídeos e tutoriais.

"Estou sempre ao lado dela porque acredito que é preciso desmistificar o que é o islã. Existe a ideia de que islamismo é terrorismo. Isto é política, atos isolados que acontecem pelo mundo", diz a mãe de Carima, ao ressaltar que esse tipo de estigma afeta um terço da população mundial, que é muçulmana.

É com a sensação de ter cumprido o papel de quebrar preconceitos que a dupla retorna neste domingo (27) de madrugada para São Paulo, para continuar a torcer pelo hexa do Brasil em casa e sempre de abaya e véu.

Os seguidores já fazem campanha para que a muçulmana pé-quente volte para Doha para acompanhar o Brasil na final.

A editora Eliane Trindade viajou ao Qatar a convite da Coca-Cola

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