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Jornalista, comenta na Globo e é cofundadora do Dibradoras, canal sobre mulheres no esporte.

Fragilidade vem daqueles que tentam parar mulheres no esporte

Nossa maior força é a luta que nos trouxe até aqui

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Em tempos de 8 de março, sempre se multiplicam nos jornais as matérias que nos lembram o quanto é difícil ser mulher neste mundo. Ganhamos menos que os homens pela mesma função; não conseguimos emprego após a gravidez; sofremos violência na rua todos os dias; apanhamos dos nossos companheiros; morremos pelo simples fato de sermos mulheres.

Mas há algum tempo eu decidi que, ao menos no 8 de março, eu não queria mais sentir a dor dessa desigualdade. Já bastam todos os outros dias do ano em que a gente sente na pele o peso de ser do tal "sexo frágil", como dizem. Em vez de ressaltar as derrotas que tentam nos impor, decidi usar esse espaço para mostrar a luta que nos fez vencer.

Formiga, 42, está a caminho de sua sétima Olimpíada - Julia Chequer - 29.ago.19/Folhapress

O esporte nunca foi "lugar de mulher". Quando criou os Jogos Olímpicos da era moderna, o chamado Barão de Coubertin disse em 1896 que as mulheres seriam sempre "imitações imperfeitas". Ao proibi-las de participar das competições, ele sentenciou: "Talvez as mulheres compreenderão logo que essa tentativa não é proveitosa nem para seu encanto nem mesmo para sua saúde".

Não só não compreenderam, como na Olimpíada seguinte as mulheres já se fizeram presentes como competidoras.

Aliás, naquela mesma edição de 1896, a grega Stamata Revithi correu a maratona um dia depois dos homens, já que não poderia competir com eles.

O medo de que elas praticassem esportes no passado gerou até mesmo uma lei para proibir determinadas modalidades femininas. "Às mulheres não se permitirá a prática de desportos incompatíveis com as condições de sua natureza", dizia o decreto lei número 3.199, de 14 de abril de 1941. Entre esses esportes incompatíveis, estavam, logicamente, o futebol.

Foram tantas as barbaridades já inventadas para afastar as mulheres do campo que até mesmo médicos embarcaram nessa onda. Doutor Leite de Castro afirmou a um jornal de Curitiba em 1940 que o futebol "é um esporte violento capaz de alterar o equilíbrio endócrino da mulher".

O que ele diria hoje ao ver Formiga, meia da seleção brasileira, jogando em altíssimo nível aos 42 anos, prestes a ir para sua sétima Olimpíada?

Naquele mesmo ano, uma carta de um senhor chamado José Fuzeira endereçada ao presidente da República à época, Getúlio Vargas, tentava alertá-lo para o perigo das mulheres jogarem futebol. "A mulher não poderá praticar esse esporte violento sem afetar, seriamente, o equilíbrio fisiológico das suas funções orgânicas, devido à natureza que dispôs a ser mãe."

Será que esse homem ainda está vivo para ver a lateral esquerda Tamires, mãe de Bernardo, 10 anos, protagonizando lances brilhantes com a camisa da seleção?

Vinte anos mais tarde, foi publicada na Folha uma explicação biológica para a proibição do futebol feminino. "As mulheres têm ossos mais frágeis; menor massa muscular; bacia oblíqua; tronco mais longo e por isso menos resistente [...]."

Fico imaginando quão mais frágeis devem ser os ossos de Marta, seis vezes melhor do mundo, recordista de gols pelo Brasil no futebol.

Não precisa voltar tanto no tempo para constatar que esses pensamentos retrógrados permaneceram.

Em 2005, o hoje técnico da seleção brasileira, Tite, criticou a atuação de uma árbitra e disse que "em jogo de alta velocidade, o acompanhamento de uma mulher não dá".

Qual seria hoje a opinião dele sobre Edna Alves Batista, considerada uma das melhores árbitras do mundo?

Sexo frágil? A fragilidade vem daqueles que tentam nos parar. Nossa maior força é a luta que nos trouxe até aqui. Feliz dia, mulheres.

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