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Jornalista, comenta na Globo e é cofundadora do Dibradoras, canal sobre mulheres no esporte.

Mulheres vivem momento histórico em transmissões esportivas

Espanto por ouvir narradoras em uma partida está com os dias contados

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“É uma mulher narrando?”. A primeira reação costuma ser de estranhamento. E não poderia mesmo ser outra. Em quase um século de transmissões do futebol no rádio e em pelo menos seis décadas dos jogos na TV, ouvimos sempre homens dando voz ao espetáculo.

Salvo raras e esporádicas exceções do passado (mas não de menor importância), o momento que vivemos é único. Nunca foi tão “fácil” ouvir narrações femininas nas transmissões esportivas. Para além de pioneiras como Zuleide Ranieri (na Rádio Mulher na década de 1970) e Luciana Mariano (na Band na década de 1990), hoje podemos dizer que a narração feminina é uma realidade ---e, por que não, uma tendência. Um caminho sem volta.

Quem assistiu ao jogo entre Grêmio e Pelotas pelo Campeonato Gaúcho neste domingo (28) no Premiere ouviu Renata Silveira narrar os quatro gols da partida de forma brilhante.

Quem é fã de NBA, pôde acompanhar a transmissão espetacular de Boston Celtics e Milwaukee Bucks na ESPN com narração de Natália Lara e comentários de Alana Ambrosio.

Quem acompanha futebol feminino viu há pouco mais de uma semana o título da Ferroviária na Libertadores sendo narrado e comentado por mulheres incríveis na Band. Isabelly Morais comandou a transmissão ao lado das ex-jogadoras Alline Calandrini e Milene Domingues.

A presença e, principalmente, a frequência delas nos canais de TV faz deste um momento histórico. Três dos principais veículos esportivos do país (Grupo Globo, ESPN/Fox e TV Bandeirantes) têm narradoras no seu quadro fixo. Isso significa que se, outro dia, o torcedor gremista se surpreendeu ao ouvir a narração de uma mulher, amanhã será o torcedor colorado, e depois o palmeirense, o corintiano, o flamenguista.

Os apaixonados por basquete já vão ver outro jogo nesta semana com a dupla feminina na transmissão. E os entusiastas do futebol feminino poderão comemorar mais e mais jogos narrados e comentados por mulheres.

Quem porventura estiver zapeando os canais terá mais chances de se deparar com uma voz feminina numa transmissão esportiva. E, por algum tempo, a reação ainda ser esta, de choque: “é uma mulher narrando?”. Mas esse espanto está com os dias contados.

Quanto mais ouvirmos mulheres na narração, menos acharemos “estranho” ouvi-las. Outro dia, no raio-x do aeroporto, o funcionário me disse: “Acho muito legal mulher falando de futebol. Agora tem até narradora, né?”, ao que o outro colega de trabalho se tratou de responder: “se é mulher ou homem, o que importa é ser competente”.

Não poderia concordar mais. Mas seria muita ingenuidade da nossa parte achar que, em quase um século de futebol no rádio e em 60 anos de futebol na TV, nunca houve mulheres competentes para narrar ou comentar jogos, não é mesmo? O problema é que sempre nos fizeram acreditar que a presença exclusivamente masculina no esporte era o “normal”. Qualquer coisa fora disso seria uma aberração.

Talvez por isso, até hoje, mulheres que gostam de futebol tenham que presenciar reações espantosas quando começam a falar do jogo em uma mesa de bar, numa conversa na rua ou no papo com o taxista. “Nossa, você entende mesmo, hein?”.

Elas (nós) ainda são exceção, precisamos admitir. Não por uma questão “natural”. É por sempre termos ouvido e visto homens fazendo parte do jogo que nos sentimos excluídas dele. Mas há uma mudança em curso. Quanto mais a narração e os comentários femininos em transmissões fizerem parte da rotina das novas gerações, mais meninas e mulheres saberão que esporte também é lugar delas.​

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