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Humorista, membro do coletivo português Gato Fedorento. É autor de “Boca do Inferno”.

Lamentáveis xingamentos

Para que outra coisa serve o Twitter?

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Quando se soube que o ministro da Educação do Brasil tinha xingado cidadãos no Twitter, o caso gerou uma indignação totalmente injustificada. Mas não era verdade que o ministro tinha xingado gente no Twitter? É claro, mas para que outra coisa serve o Twitter?

Se o ministro da Educação tivesse sido pedagógico, conciliatório ou amável no Twitter —aí sim, podíamos estar diante de um delito grave. Não, o problema não foi o fato de o ministro xingar cidadãos, foi o fato de os xingamentos serem tão fracos.

 

Quando alunos do ensino fundamental xingam com mais qualidade do que o ministro da Educação, percebemos que o sistema tem falhas graves. A um dos usuários o ministro acusou de ser feio, por amor de Deus. A outro, chamou de babaca. São xingamentos tão fracos que merecem ser xingados. O ministro quis ofender e, manifestamente, não conseguiu —o que prova que até para ser mal formado é preciso ter formação.

O insulto mais infeliz de todos foi produzido quando uma usuária afirmou que, num eventual regresso do Brasil à monarquia, o ministro seria o bobo da corte. Weintraub respondeu: “Uma pena, prefiro cuidar dos estábulos, ficaria mais perto da égua sarnenta e desdentada da sua mãe”.

Creio que o problema é óbvio. Um deficiente domínio da língua portuguesa fez com que o ministro da Educação perdesse o debate. Por maldade, queria insultar; por burrice, saiu insultado. Mostrou falta de educação e falta de educação.

Vamos analisar essa péssima ofensa. Respondendo à cidadã, Weintraub lamenta que, caso o país voltasse a ser uma monarquia, ele fosse nomeado bobo da corte. O sonho dele era cuidar dos estábulos, para cuidar da “égua sarnenta e desdentada da sua mãe”. Portanto, numa eventual monarquia brasileira, a mãe da sua adversária seria proprietária de uma égua sarnenta e desdentada. Mais: a égua da mãe da cidadã viveria no estábulo real.

Ora, em princípio, só à rainha seria permitido o capricho de manter uma égua sarnenta e desdentada no estábulo real. Provavelmente por ser uma soberana bondosa e humana, não tinha mandado abater a égua, e incumbira Weintraub de cuidar dela todos os dias. Ou seja, o que o ministro disse à sua interlocutora foi: num Brasil monárquico eu não seria o bobo da corte, não. Seria o moço da cavalariça da sua mãe, a admirável rainha. Nem insultar sabe.

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