Em sua missão de defesa da qualidade da educação básica, o Todos Pela Educação fez duras críticas a gestões anteriores do Ministério da Educação (MEC), relativas à alocação dos recursos, modelagem das políticas, estratégia de implementação e, principalmente, resultados.
Entretanto, o atual ministro, Abraham Weintraub, ultrapassou os limites razoáveis, como não se viu antes.
A postura agressiva adotada nas redes sociais não só desonra a educação, apequena o Governo Federal e desrespeita todo o país, mas fundamentalmente impacta na atuação do ministério, pois gera compromissos com o discurso radical e impõe limitações graves à efetividade das ações para a melhoria da educação básica.
Às palavras, sua força e consequências. Por se tratar do ministro da Educação, essas consequências são graves demais. Há enorme impacto simbólico e também repercussão prática, dada sua função executiva, que deveria ser de referência como principal articulador das várias cadeias de implementação de políticas educacionais.
No Twitter, o ministro já sugeriu a um usuário que carregasse carvão para sua própria cremação, aplaudiu incitação à violência contra estudantes, ofendeu o presidente francês e chamou uma interlocutora de “filha da égua”.
Considerado um problema por muitos do próprio governo, em quase todos os partidos no Congresso Nacional e na comunidade educacional, Weintraub só anima os grupos radicais. Infelizmente, falta intenção de melhorar a educação, sobra intenção no extremismo.
Apesar de técnicos do MEC seguirem trabalhando pela continuidade de importantes políticas de gestões anteriores, como o apoio a estados e municípios para a implementação da Base Nacional Comum Curricular e para a expansão do ensino médio em tempo integral, o ministro da “balbúrdia” compromete esses esforços e não conduz uma agenda de reformas amplas e complexas.
Muito mais poderia ter sido feito se o ministro e sua equipe não gastassem grande parte do seu tempo nas novas iniciativas que terão pouco ou nenhum impacto positivo nos resultados educacionais.
Uma delas visa agradar ao presidente e a alguns de seus apoiadores (escolas cívico-militares), outra, o setor privado (“Educação na Prática”, que eleva artificialmente a avaliação das instituições de ensino superior em troca do seu espaço ocioso para a educação básica) e, mais recentemente, a perseguição a professores mascarada de proteção a estudantes.
Além disso, o MEC nem sequer definiu uma estratégia concreta para reverter o quadro atual em que 55% das crianças de 8 e 9 anos não estão plenamente alfabetizadas.
Da mesma forma, a pasta mal se envolveu nos debates na Câmara e no Senado sobre o Fundeb, principal mecanismo de financiamento da educação básica, e segue a reboque do Ministério da Economia nas negociações com parlamentares.
Há muito a ser feito, não podemos mais perder tempo.
O Brasil nunca deu a devida prioridade à educação básica e, como resultado, as oportunidades que os brasileiros poderiam ter de uma vida melhor foram reduzidas, assim como a competitividade do país, e pioraram os índices de segurança pública —para citar alguns efeitos.
Nosso patamar de exigência em relação ao ministro da Educação deveria ser o mesmo que adotamos para o ministro da Economia.
Entretanto, o titular do MEC não possui liderança técnica, política ou gerencial. Weintraub foi o único a ganhar com tudo isso: de desconhecido passou a figura nacional.
Quem perde somos todos nós e, como sempre, sobretudo as crianças e os jovens.
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