Humorista, membro do coletivo português Gato Fedorento. É autor de “Boca do Inferno”.
Pacto de Varsóvia com o Diabo
Finalmente vamos saber como seria o Brasil na Idade Média
Já é assinante? Faça seu login
Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:
Oferta Exclusiva
6 meses por R$ 1,90/mês
SOMENTE ESSA SEMANA
ASSINE A FOLHACancele quando quiser
Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.
Quando se soube que o novo presidente da Fundação Nacional de Artes era um terraplanista convencido de que o rock era música do Diabo, fiquei contente. Achei um avanço cultural importante. Como português, só conheço o Brasil a partir de 1500. Muitas vezes me pergunto: “Como seria o Brasil na Idade Média?”. Finalmente vamos saber.
Vão ser tempos maravilhosos de estudo da mentalidade medieval. Tenho pena que Dante Mantovani não tenha ainda proposto a queima de uma bruxa, mas acredito que seja uma questão de tempo. Acabou de chegar ao cargo e é injusto pedir a ele que satisfaça todas as necessidades culturais do Brasil no primeiro mês.
A teoria de Mantovani é interessante: os Beatles foram inventados pela União Soviética para destruir o capitalismo. A União Soviética, como se sabe, adorava os Beatles —e o rock em geral— mas proibia os cidadãos de os ouvirem, só para disfarçar.
Mantovani não se deixou enganar e sabe que os russos queriam destruir a sociedade ocidental da maneira mais eficaz. Eles tinham a bomba atômica, mas optaram por atacar com “Ob-La-Di, Ob-La-Da”. Espertos.
O ponto mais controverso do pensamento de Mantovani tem a ver com o seu receio de que, tendo em conta a imagem do Brasil, as pessoas queiram usar o país para, e cito, “as suas orgias sexuais”.
Não é a primeira vez que ouço uma pessoa puritana se referir a orgias sexuais. Preocupadas com a confusão que sempre se estabelece quando se fala de orgias, pessoas como Mantovani são rigorosas: as orgias a que se referem são mesmo de caráter sexual.
Uma confirmação para aquela gente de horizontes limitados, que não conhece orgias de outro tipo; uma desilusão para todos os que esperam há anos por uma boa orgia contabilística: uma dessas festas de que tanto se ouve falar, em que os convivas comparecem com notas devidamente preenchidas com o CPF e desatam libidinosamente a calcular o imposto de renda uns dos outros.
Como pai de duas adolescentes, agradeço a Mantovani que tenha teorizado sobre este nosso mundo plano no qual certas canções conduzem às drogas, ao sexo, ao aborto e à destruição do capitalismo. É importante elas verem que é possível delirar sem consumir entorpecentes.
Receba notícias da Folha
Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber
Ativar newsletters