Professores em currículo de presidente da Funarte dizem não se lembrar dele

Dante Mantovani foi nomeado nesta semana em sequência de trocas na Secretaria Especial da Cultura

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São Paulo

Em música, quando se diz que um estudante foi aluno de um instrumentista ou maestro, entende-se que o aprendiz teve aulas particulares ou em curso formal de conservatório ou universidade com o professor.

O novo presidente da Funarte, o maestro Dante Mantovani, porém, diz em seu site oficial ter sido aluno de músicos que não o conhecem ou não se lembram dele.

O maestro Dante Mantovani
O maestro Dante Mantovani - Reprodução

É o caso de Edelton Gloeden, com quem diz ter estudado violão. “Não tenho qualquer lembrança desse rapaz”, diz o professor livre docente da USP, ganhador do prêmio Carlos Gomes de solista instrumental.

Segundo ele, pode ser que Mantovani tenha participado de alguma palestra sua, mas que não foi seu aluno formal.

A reportagem procurou Mantovani na tarde de sexta (6) e de sábado, mas ele não respondeu aos contatos telefônicos e por email 

Youtuber conservador, Mantovani foi nomeado pelo governo Bolsonaro na última segunda, dia 2, para assumir a Funarte (Fundação Nacional de Artes). Seu nome faz parte de uma lista de trocas promovidas nos últimos dias em cargos ligados à Secretaria da Cultura, desde o começo de novembro sob o comando de Roberto Alvim.

No canal que leva seu nome e tem pouco mais de 6.000 inscritos, Mantovani compartilha reflexões e teorias da conspiração sobre política e arte.

Uma de suas principais ideias é a defesa da degradação da arte. “Até século 19, a arte era muito importante para a sociedade, as pessoas eram educadas para gostar de coisas belas, apreciar a beleza”, diz, em vídeo de 2016. “No século 20, a arte passou a ter uma outra função e deixou de ser veículo fundamentalmente da beleza.”

O compositor, arranjador e violonista Daniel Wolff diz ter tomado conhecimento de que estava sendo citado por Mantovani como seu professor, mas que não lembra quando deu aulas a ele.

“Suponho que tenha sido em algum curso há muitos anos, em uma turma com vários alunos”, diz o gaúcho vencedor do prêmio Grammy.

O maestro e compositor uruguaio Pablo Trindade, radicado em Porto Alegre, com quem Mantovani diz, em seu site, ter estudado regência coral, disse acreditar que o novo presidente da Funarte tenha participado de uma oficina sua no Festival de Londrina há 17 ou 18 anos.

Outro violonista citado por Mantovani é Eduardo Meirinhos, professor de música da Universidade Federal de Goiás. “Eu não tenho a mínima recordação dele”, diz. “Só vejo a possibilidade de ele ter feito masterclasses comigo, mas eu não me lembro de ter dado aulas a ele.” Meirinhos diz ainda ter participado do Festival de Londrina no fim dos anos 1990.

Também nomeado nesta semana, o novo presidente da Fundação Biblioteca Nacional, Rafael Nogueira, fez seu primeiro pronunciamento no cargo.

Ele disse que não tem a pretensão "de desmontar" a equipe técnica especializada da biblioteca, e afirmou compromissos de melhor o sistema contra incêndios e combater furtos de obras da instituição.

Nogueira também criticou a forma como foi retratado pela imprensa após sua nomeação, reafirmando que tem diploma em filosofia. Em postagem antiga nas redes, ele associa Caetano Veloso ao analfabetismo funcional.

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