Ricardo Araújo Pereira

Humorista, membro do coletivo português Gato Fedorento. É autor de “Boca do Inferno”.

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Ricardo Araújo Pereira

Lamentáveis xingamentos

Para que outra coisa serve o Twitter?

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Quando se soube que o ministro da Educação do Brasil tinha xingado cidadãos no Twitter, o caso gerou uma indignação totalmente injustificada. Mas não era verdade que o ministro tinha xingado gente no Twitter? É claro, mas para que outra coisa serve o Twitter?

Se o ministro da Educação tivesse sido pedagógico, conciliatório ou amável no Twitter —aí sim, podíamos estar diante de um delito grave. Não, o problema não foi o fato de o ministro xingar cidadãos, foi o fato de os xingamentos serem tão fracos.

 
Ilustração do rosto de Abraham Weintraub no alto. No meio, está escrito "Égua sarnenta". Na parte inferior, há as mãos dele segurando um celular
Luiza Pannunzio/Folhapress

Quando alunos do ensino fundamental xingam com mais qualidade do que o ministro da Educação, percebemos que o sistema tem falhas graves. A um dos usuários o ministro acusou de ser feio, por amor de Deus. A outro, chamou de babaca. São xingamentos tão fracos que merecem ser xingados. O ministro quis ofender e, manifestamente, não conseguiu —o que prova que até para ser mal formado é preciso ter formação.

O insulto mais infeliz de todos foi produzido quando uma usuária afirmou que, num eventual regresso do Brasil à monarquia, o ministro seria o bobo da corte. Weintraub respondeu: “Uma pena, prefiro cuidar dos estábulos, ficaria mais perto da égua sarnenta e desdentada da sua mãe”.

Creio que o problema é óbvio. Um deficiente domínio da língua portuguesa fez com que o ministro da Educação perdesse o debate. Por maldade, queria insultar; por burrice, saiu insultado. Mostrou falta de educação e falta de educação.

Vamos analisar essa péssima ofensa. Respondendo à cidadã, Weintraub lamenta que, caso o país voltasse a ser uma monarquia, ele fosse nomeado bobo da corte. O sonho dele era cuidar dos estábulos, para cuidar da “égua sarnenta e desdentada da sua mãe”. Portanto, numa eventual monarquia brasileira, a mãe da sua adversária seria proprietária de uma égua sarnenta e desdentada. Mais: a égua da mãe da cidadã viveria no estábulo real.

Ora, em princípio, só à rainha seria permitido o capricho de manter uma égua sarnenta e desdentada no estábulo real. Provavelmente por ser uma soberana bondosa e humana, não tinha mandado abater a égua, e incumbira Weintraub de cuidar dela todos os dias. Ou seja, o que o ministro disse à sua interlocutora foi: num Brasil monárquico eu não seria o bobo da corte, não. Seria o moço da cavalariça da sua mãe, a admirável rainha. Nem insultar sabe.

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