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Humorista, membro do coletivo português Gato Fedorento. É autor de “Boca do Inferno”.

Urso de ódio

Se encontrar um homem é mais perigoso do que um bicho, como explicar o Tinder?

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Agora que a poeira já terá assentado, gostaria de me pronunciar sobre o debate que decorreu, há uns tempos, no TikTok. Não sei se se pode chamar debate a coisas que decorrem no TikTok, mas vamos usar a palavra debate para facilitar.

Luiza Pannunzio - Folhapress

Alguém propôs que as mulheres respondessem à pergunta: se estivessem sozinhas numa floresta, preferiam deparar com um homem desconhecido ou com um urso? Muitas mulheres (talvez a maioria) disseram preferir o urso.

Manifestei a minha perplexidade a várias familiares e amigas. Algumas disseram-me que a minha surpresa se devia ao fato de eu desconhecer a natureza dos homens. Eu respondi que conheço bem demais a natureza dos homens, o meu problema era o fato de as mulheres inquiridas desconhecerem, ao que tudo indicava, a natureza dos ursos.

Eu culpo a indústria das pelúcias. São décadas e décadas produzindo ursinhos aos quais as crianças se agarram para buscar consolo e adormecer em segurança e sossego. Se, em vez de ursinhos de pelúcia, essas fábricas tivessem criado lenhadores de pelúcia, mecânicos de pelúcia ou taxistas de pelúcia, talvez as respostas tivessem sido diferentes.

Mas, se é verdade que o animal selvagem médio é menos feroz do que o homem médio, há aspectos da nossa sociedade que são difíceis de compreender. Se se deparar com um homem desconhecido é mais perigoso do que deparar com um urso, como explicar o Tinder, um aplicativo muito popular na qual as mulheres procuram contatar homens desconhecidos, em vez de ursos?

Talvez haja mercado para um aplicativo em que as mulheres possam ter acesso a um vasto leque de ursos e escolher os mais atraentes. "Olá, eu sou o Misha e gosto de encontrar colmeias e pescar salmão." "Swipe right."

Por outro lado, em várias visitas ao zoológico, assisti à seguinte situação: várias mulheres se cruzaram com homens desconhecidos, e nenhuma se foi refugiar na jaula dos ursos, para escapar do perigo.

Por isso, nas conversas com as minhas familiares e amigas, eu colocava outra questão. Suponhamos que, na mesma floresta, elas se deparavam com um homem que lhes dizia baixinho: "Moça, não faça barulho. Está ali um urso dormindo, venha por aqui. É perigoso continuarmos nesta zona". O que fariam?

Se o homem é mais perigoso que o urso, o melhor é gritar, para acordar o urso. Pode ser que seja o Misha, afugente o homem e nos ofereça mel, ou um sashimi de salmão fatiado pelas suas próprias garras.

E depois de eu expor esses raciocínios, as minhas familiares e amigas diziam que nenhum urso as aborreceria com considerações desse tipo, e que preferiam o destino que ele lhes desse, até porque seria certamente mais rápido.

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