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Professor da New York University Shanghai (China) e da Fundação Dom Cabral. É doutor em economia pela UFRJ.

Quem são os donos do Brasil?

Por mais aberta que seja ao capital internacional, economia é dominada por interesses nacionais

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A extrema direita e a esquerda concordam em um ponto: a compra de empresas brasileiras por estrangeiros é preocupante pois diminuiria nossa soberania.

Pura balela. A economia brasileira, por mais aberta que seja ao capital internacional, é dominada por interesses nacionais, e isso não vai mudar.

Estrangeiros têm pouco menos de R$ 1 trilhão investido no Brasil, descontado o que os brasileiros têm de patrimônio no exterior, de acordo com o Banco Mundial. A economia brasileira produz mais de R$ 6,5 trilhões. Todo ano.

Terminal de Contêineres Paranaguá (TCP), em Paranaguá (PR), que foi comprado por chineses em 2017 - Eduardo Anizelli - 6.set.18/Folhapress

A participação dos estrangeiros na nossa economia é, sob qualquer ótica (patrimônio, investimento direto, remessa de lucros), pequena. Os donos do Brasil são brasileiros. Donos de terras e imóveis? Brasileiros. Acionistas das empresas de capital aberto e fechado? Brasileiros. A força de trabalho? Brasileira.

Vamos a mais números: nos últimos dez anos, os investimentos estrangeiros no Brasil foram da ordem de US$ 50 bilhões anuais. O total de investimentos no país é de mais de US$ 260 bilhões por ano, para um PIB de cerca de US$ 1,7 trilhão.

O investimento estrangeiro não chega a 20% do total, mesmo com o real desvalorizado. Ou seja, quem investe (e, portanto, ganha) no Brasil são empresas brasileiras. Privatizar estatais e deixar empresas estrangeiras darem lance não vão mudar essa realidade.

A remessa de lucros e dividendos para o exterior também não é nenhuma ameaça. Hoje saem US$ 20 bilhões por ano, pouco mais de 1% do PIB. É um valor abaixo da média de economias do nosso porte e é mesmo irrelevante, ainda mais num cenário, como nos últimos anos, de elevados saldos comerciais. Mesmo que a remessa dobrasse, ou triplicasse, não mudaria muita coisa.

E esses números (disponíveis no site do Banco Central) nem levam em conta que também temos empresas brasileiras fazendo investimentos no exterior e empresas estrangeiras repatriando investimentos.

O que vale para o todo vale em dobro para a China. Os chineses não estão comprando o Brasil e nem o farão. Simplesmente a economia brasileira é muito grande para isso. O investimento chinês no Brasil, no acumulado dos últimos 15 anos, foi de US$ 54 bilhões. Isso é o equivalente ao que a Petrobras investia num só ano, no auge da sua megalomania.

Nem China, nem EUA, nem ninguém. Somos donos do nosso destino. A gestão da nossa economia cabe somente a nós. Fomos péssimos com a esquerda no poder e isso não deve melhorar com a extrema direita lá. Não adianta culpar os gringos.
 

 


Apesar de os economistas do capenga governo Temer terem feito até mais do que eu esperava, não conseguiram embarreirar o Rota 2030. Somos muito bons em transferir recursos da sociedade para as bem fornidas empresas do setor automobilístico. Estamos em 2018 fazendo política industrial como se fosse 1958.

 

A crise do Programa Mais Médicos mostra o quanto precisamos aumentar a quantidade de médicos no Brasil. Há uma grande restrição de profissionais de medicina, alimentada em parte por associações de classe, que usam a desculpa de controle de qualidade para limitar a concorrência, de dentro e de fora. 

Três propostas para mudar isso: permitir o dobro dos cursos de medicina hoje existentes, acabar com a revalidação de diploma para universidades reconhecidas (entre as 2.000 melhores do mundo) e entregar um visto de trabalho em cinco dias para médicos estrangeiros. Abaixo a reserva de mercado. Os doentes não podem esperar.


 


 

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