Rodrigo Zeidan

Professor da New York University Shanghai (China) e da Fundação Dom Cabral. É doutor em economia pela UFRJ.

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Rodrigo Zeidan

Vamos jogar fora o Banco dos Brics?

Não podemos ajudar a construir a instituição e dar sinais de que não somos sérios

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Ano que vem o Brasil será sede da cúpula dos Brics e assume a presidência do bloco. Em 2020, o país indica o presidente do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB, antigo Banco dos Brics), que guiará a instituição pelos próximos cinco anos. Grande parte da nova ordem mundial está voltada para o Oriente e temos um assento na janela por causa de um relatório do banco Goldman Sachs, em 2001.

Fazer parte desse processo tem custo. No caso do NDB, os cinco países fundadores devem aportar recursos até totalizar US$ 2 bilhões (R$ 8,29 bilhões).

A próxima parcela, de US$ 300 milhões (R$ 1,24 bilhão), deve ser depositada até o dia 3 de janeiro. O problema é que o aporte não consta da proposta orçamentária brasileira para 2019.

Reunião dos país que compõem o Bric, que este ano foi na África do Sul - AFP

Recentemente o NDB conseguiu rating de longo prazo AA+ das agências de classificação de risco Fitch e S&P, um degrau abaixo da classificação máxima AAA e acima do normal para bancos (AA). O BNDES tem rating BB-, 11 degraus abaixo.

O NDB consegue captar recursos de forma mais barata do que qualquer dos países-membros e já tem quase US$ 1 bilhão (R$ 4,15 bilhões) em projetos no Brasil. Há três opções na mesa em relação à participação do Brasil no bloco dos Brics e no NDB: sair do bloco e/ou do banco, honrar seus compromissos, ou atrasar o pagamento da sua participação.

Sair do NDB é uma opção, se o que queremos é assistir de longe às mudanças geopolíticas do mundo. Mas se queremos participar da ordem mundial não faz sentido deixar de colocar os recursos no banco.

Não só colocaríamos em risco a capacidade da instituição de fazer empréstimos para projetos no Brasil com juros abaixo do que o Tesouro brasileiro consegue captar, mas enfraqueceríamos a nossa atuação no bloco. Não podemos ajudar a construir uma instituição como o Brics e ao mesmo tempo dar sinais de que não somos sérios. É amadorismo.

*

A UFRJ, minha alma mater, é mal gerenciada há décadas.

O desastre com o Museu Nacional, causado em última instância pela péssima governança da instituição, é o último de uma série de descalabros de gestões partidárias, amadoras e ruins, combinados com uma estrutura inflexível. Precisamos liberar o museu do descaso com o qual é tratado pela UFRJ.

Para quem acha que o problema é falta de dinheiro: mais recursos para a UFRJ é como dar cachaça para bêbado.

Precisamos modernizar a governança do museu e diversas instituições, como a Biblioteca Nacional e o Observatório Nacional, autarquias federais independentes, mas também inflexíveis, para algo próximo do Impa, uma organização social e o maior exemplo de sucesso da área acadêmica brasileira.

Não é privatizar (seria um absurdo): é profissionalizar.

Para completar, só no Brasil divulga-se um "orçamento" sem incluir despesas correntes e salários dos profissionais.

O fato de o Tesouro pagar o salário de pesquisadores do museu não significa que eles não deveriam entrar na conta do orçamento da instituição. Orçamento sem despesas obrigatórias: mais uma jabuticaba que só se encontra no Brasil.

 

No dia 17 de setembro ocorre o lançamento de "Apelo à Razão: a reconciliação com a lógica econômica", livro que escrevi com Fabio Giambiagi, o maior especialista brasileiro em Previdência. A ideia do livro é apresentar um roteiro de propostas para tirar o Brasil da armadilha da renda média.

Não participarei do lançamento na Livraria da Travessa, no Rio de Janeiro, por estar fora do país, mas lá estarei em espírito.

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