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Contando médicos

Substituição de profissionais cubanos não se resolve de maneira tão simples

Com a saída de médicos cubanos, pacientes com quadro considerado mais grave eram encaminhados do município de Sítio do Quinto para o de Antas, na Bahia, no fim de novembro
Com a saída de médicos cubanos, pacientes com quadro considerado mais grave eram encaminhados do município de Sítio do Quinto para o de Antas, na Bahia, no fim de novembro - Adriano Vizoni - 27.nov.18/Folhapress

Dirigentes populistas nunca abandonam de todo a retórica de palanque, mas para exercerem o poder de modo consistente precisam sacrificar algo das palavras de ordem em nome das tecnicidades de governo. Jair Bolsonaro (PSL) ainda caminha na transição de candidato a presidente eleito.

Há poucos dias, depois de passar os olhos pelos números relativos ao edital de emergência do programa Mais Médicos, tripudiou sobre os rivais petistas ao apontar que quase 100% das vagas deixadas pelos cubanos já haviam sido preenchidas por brasileiros.

Entretanto desafios complexos como o de levar profissionais de saúde a regiões distantes, perigosas ou pouco atrativas não se resolvem de maneira tão simples.

Verdade que a resposta inicial surpreendeu positivamente. O edital abriu inscrições para 8.517 vagas e, até esta quarta-feira (5), 35,1 mil médicos brasileiros haviam se candidatado a 8.416 postos. Apenas áreas mais remotas ficaram sem interessados.

Porém, como alerta o próprio futuro ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, é preciso aguardar para descobrir quantos de fato se apresentarão ao trabalho.

O prazo para entregar a documentação e assumir o cargo vai até 14 de dezembro. Até aqui, 43% dos inscritos iniciaram suas atividades.

Mesmo que a grande maioria assuma as vagas, resta o problema histórico de aderência dos brasileiros ao Mais Médicos. Entre 2013 e 2017, pouco mais da metade (54%) dos que começaram a trabalhar desistiram antes de completar a metade do contrato de três anos.

A fixação de profissionais de saúde em áreas periféricas é difícil em todos os países de dimensões continentais —e as soluções envolvem combinações de medidas.

Oferecer aos profissionais uma carreira federal no SUS se apresenta como uma opção. Urge melhorar a infraestrutura de postos e hospitais em que atenderão. 

Outros países têm conseguido usar com sucesso a telemedicina, em sistema no qual se utilizam, na ponta em que está o paciente, tanto médicos generalistas quanto não médicos. Isso dependeria de mudanças na regulação.

Existem, pois, meios de enfrentar as deficiências. Não há, porém, receitas instantâneas que caibam numa postagem em rede social.

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