Rodrigo Zeidan

Professor da New York University Shanghai (China) e da Fundação Dom Cabral. É doutor em economia pela UFRJ.

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Tiroteio comercial entre EUA e China atinge Brasil em cheio

Sempre sobrará para a gente; enquanto isso, o melhor é acelerar acordos comerciais

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Policial à frente de câmeras e bandeira dos EUA antes da visita de Donald Trump à China, em novembro passado
Policial à frente de câmeras e bandeira dos EUA antes da visita de Donald Trump à China, em novembro passado - Damir Sagolj - 8.nov.17/Reuters

O anúncio do pacote de tarifas americano sobre US$ 200 bilhões de exportações chinesas acelerou uma guerra comercial que nos atinge em cheio. Somos dano colateral, e não há muito o que possamos fazer.
Bem, sempre podemos perder mais ainda se o governo resolver retaliar um dos dois gigantes, mas o melhor é ficar quietinho no nosso canto.

O Brasil perde por três razões: queda no preço internacional do que exporta, desvalorização do dólar e do yuan, o que torna mais caro exportar (e mais barato importar), e a incerteza sobre o crescimento futuro da economia mundial. 

Vejamos o caso anterior da soja, por exemplo. A China colocou tarifas sobre as exportações americanas do produto. Alguns analistas chegaram a comemorar, dizendo que isso ampliaria o mercado brasileiro. Errado. 

A imposição de tarifas sobre importação de soja, mesmo que somente dos Estados Unidos, faz o preço da oleaginosa no mercado interno chinês subir, diminuindo a importação de todos os países (embora mais dos EUA, é claro). 

A China é o maior consumidor mundial, e a soja é produto homogêneo. Assim, o preço mundial do produto simplesmente cai, afetando não somente os Estados Unidos mas todos os produtores. Nas horas seguintes ao anúncio chinês, o preço da soja caiu 9%. Recuperou-se desde então, mas está bem abaixo da trajetória anterior.

Em relação à desvalorização cambial, a China, como ainda detém algum controle sobre sua taxa de câmbio —embora menor do que em 2015/16, quando sofreu um ataque especulativo e foi obrigada a deixar o yuan desvalorizar—, já respondeu às ameaças americanas deixando a divisa depreciar. A taxa de câmbio estava em 6,28 yuans por dólar em maio e já passa de 6,65 hoje. Com o anúncio do pacote de tarifas americanas, o mesmo acontece com o dólar. 

No fim das contas, a desvalorização das duas moedas significa que todas as exportações brasileiras ficaram mais caras, enquanto ficou mais barato importar da China e dos Estados Unidos (o termo técnico é que nossos termos de troca pioraram).

Para piorar, a guerra tarifária faz com que as economias americana e chinesa cresçam mais devagar. Isso, é claro, é muito ruim para o Brasil, assim como para o resto dos países do mundo. 

Crescimento econômico não é jogo de soma zero. Quando o resto do mundo cresce, isso nos puxa. Vivemos isso nos anos 2000, quando surfamos na onda das commodities, assim como sofremos uma recessão em 2009 por causa da crise mundial.

Quais as reações possíveis do Brasil para o cenário de uma guerra tarifária mundial? Ficar quieto, entrar no jogo, acelerar os acordos comerciais em andamento ou abrir unilateralmente seus mercados, mesmo que parcialmente.

Bem, o Itamaraty é normalmente contra abertura unilateral —continuamos a ser o país mais fechado do mundo, com todos os custos que isso traz, como falta de produtividade, de inovação e excesso de oligopolização. 

Entrar no jogo, retaliando EUA e China, seria de uma estupidez sem tamanho. Abriríamos a porta para tarifas específicas sobre nossas exportações e retardaríamos a saída da pior crise econômica da nossa história. 

O ideal seria abertura unilateral, mas não há apoio político para isso. 

O melhor caminho deve ser acelerar os acordos em andamento, como aquele com a União Europeia. Fazê-lo o mais rápido possível. Mas não nos enganemos. Enquanto China e Estados Unidos se estapeiam, sempre sobra para a gente.
 

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