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Professor da New York University Shanghai (China) e da Fundação Dom Cabral. É doutor em economia pela UFRJ.

Mercado cripto ainda vai piorar muito antes de melhorar

FTX não era esquema de Ponzi clássico, mas irregularidades secaram o caixa

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Dois dos principais executivos do grupo FTX, de Sam Bankman-Fried, acabaram de se declarar culpados de fraude na justiça americana. Esse não é o primeiro escândalo de bolsas de criptomoedas e nem será o último. Mas importa pelo que revela sobre escolhas regulatórias e o impacto das taxas de juros sobre esse ecossistema: enquanto o preço do dinheiro estiver alto, as chances de colapso de outras empresas são grandes.

A FTX não era um esquema de Ponzi, no seu estilo clássico. Em esquemas assim, o dinheiro de novos depositantes é usado para pagar promessas a investidores anteriores. O esquema só funciona enquanto o fluxo de novo dinheiro for alto e o colapso é inevitável. O caso da FTX parece um clássico caso de fraude, no qual recursos são simplesmente desviados.

Sam Bankman-Fried, fundador e ex-CEO da FTX, é escoltado nas Bahamas - Marco Bello - 21.dez.2022/Reuters

A FTX era, grosso modo, uma bolsa de valores. Bolsas são negócios normalmente seguros, já que são meros intermediários entre compradores e vendedores. Exigem garantias para executar transações, especialmente naquelas que permitem alavancagem.

Para se ter uma ideia, um investidor que coloque ações como garantia para executar uma transação, em vez de dinheiro, em uma bolsa tradicional, tem seus ativos avaliados em 50% do seu valor de mercado; ou seja, o investidor não tem como deixar algo a descoberto, a não ser que as ações que deixou como garantia tenham queda de mais de 50% do seu valor.

O que a FTX fazia de irregular era "emprestar" o dinheiro dos clientes para a empresa Alameda Research, o fundo de investimentos do grupo. Como a Alameda perdia dinheiro fazendo apostas com o dinheiro dos clientes da FTX, isso abriu um rombo nas contas do grupo, de cerca de US$ 8 bilhões (R$ 41,4 bilhões). Quando o CEO da Binance, Changpeng Zhao, anunciou que ia liquidar suas posições na FTX, isso desencadeou uma enxurrada de retiradas; como a FTX não tinha caixa pelo rombo gigantesco dos recursos desviados para a Alameda, o grupo veio abaixo.

Duas coisas são surpreendentes nesse caso: como muito do ecossistema foi montado em cima de dinheiro barato pelos juros zero nos EUA e negativos na Europa e Japão, e como a ideia de um sistema financeiro sem regulação centralizada era um sonho inocente. Sabemos desde a década de 1930 que sistemas financeiros são frágeis pelas interconexões das instituições financeiras e seu papel de transformação de maturidade, criando crédito de médio e longo prazo em cima de uma base de depósitos que podem ser retirados a qualquer momento.

O mercado vive mais um "inverno" de criptomoedas, fenômeno recorrente, mas que nunca veio com a força de hoje em dia. É até surpreendente a resiliência do preço de um bitcoin, ainda acima de US$ 16 mil (R$ 82,9 mil). Ainda, assim, vai piorar muito antes de melhorar. Os juros mundiais ainda não pararam de subir, e quanto maior os juros, menor o incentivo a carregar um produto digital que não oferece retorno periódico. Em um mercado razoavelmente novo, a infraestrutura importa. E nenhuma empresa oferece serviços de custódia adequados e seguros. Se você investe nesse setor, cuidado.

Nesse Natal, se você está embrulhado em um divórcio ou está tendo problemas com seu ex, lembre-se que nunca, mas nunca, você deve usar seus filhos para ferir o outro pai ou mãe de uma criança. Continuo vendo o quanto isso é comum e posso dizer que a única coisa que você vai conseguir é ter filhos mal ajustados e com ressentimentos contra suas atitudes.

Erramos: o texto foi alterado

US$ 16 mil equivalem a R$ 82,9 mil, não R$ 89,2 bilhões, como publicado em versão anterior deste texto

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