Descrição de chapéu Financial Times

Fed deve subir juros em 2023, antes do esperado

Autoridades veem aumento de pelo menos dois quartos de ponto percentual nas taxas de juros

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James Politi Colby Smith
Washington e Nova York | Financial Times

Dirigentes do Fed (Federal Reserve), o banco central dos Estados Unidos, antecipam que as taxas de juros devem começar a subir em 2023, antes do que previam anteriormente, de acordo com novas projeções econômicas que preveem crescimento mais rápido e inflação acentuadamente mais alta este ano.

No final da reunião de dois dias de seu comitê de política monetária, nesta quarta-feira (16), o banco central americano manteve sua principal taxa de juros inalterada, na faixa de zero a 0,25%, onde ela está desde o começo da pandemia.

Mas enquanto em março a maioria dos dirigentes do Fed previa que as taxas de juros seriam mantidas até pelo menos 2024, o consenso mudou para uma data anterior de aumento, em 2023, o que sinalizaria a convicção do banco central de que haverá uma transição mais rápida para uma recuperação plena e uma política monetária mais dura. As projeções do Fed indicam que pelo menos dois aumentos nos juros são esperados em 2023.

O presidente do Fed, Jerome Powell, durante entrevista em Washington, nos Estados Unidos - 8.mar.20/Reuters

As estimativas medianas dos dirigentes do Fed agora preveem crescimento de 7% para o Produto Interno Bruto (PIB) americano este ano, ante uma previsão de 6,5% em março, com o índice de desemprego caindo a 4,5%, em linha com as projeções anteriores. A inflação subjacente deve ser de 3% este ano, bem acima da previsão de 2,2% em março, antes de recuar a 2,1% em 2023.

“O progresso da vacinação reduziu a expansão da Covid-19 nos Estados Unidos”, anunciou o Comitê Federal de Open Market. “Em meio a esse progresso e com forte apoio em termos de política econômica, os indicadores de atividade econômica e emprego ganharam força. Os setores afetados de maneira mais adversa pela pandemia continuam fracos, mas mostram melhora”.

O comitê manteve as aquisições de ativos pelo banco central em US$ 120 bilhões por mês, na quarta-feira —outra característica de uma política monetária extremamente frouxa, introduzida para combater as consequências econômicas da pandemia. As autoridades devem ter realizado discussões iniciais sobre o momento e as condições para uma futura redução no montante de compra de títulos, mas o comunicado não fez menção a uma mudança.

O processo de redução na compra de títulos pelo Fed, conhecido como “tapering” [estreitamento], pode ser discutido por meses antes que uma decisão seja tomada. O Fed declarou que a economia teria de “fazer novos progressos substanciais”, em comparação com a situação de dezembro passado, antes que o banco central comece a reduzir a escala de suas medidas extraordinárias de apoio à economia.

Embora a inflação esteja acima da meta de em média 2% do Fed, a meta de pleno emprego do banco central não foi atingida. Há 7,6 milhões a menos de americanos empregados agora do que em fevereiro de 2020.

O Fed enfatizou que suas orientações quanto à política monetária não tem por base o calendário, e sim os resultados da economia. Especificamente, o banco central anunciou que só elevaria as taxas de juros se a economia tiver pleno emprego e inflação de 2% e a caminho de exceder esse patamar por algum tempo. Mesmo assim, na reunião de março sete dos 18 integrantes do comitê de open market previram um aumento das taxas de juros em 2023, e ontem 13 deles o fizeram.

Desde a última reunião do comitê de open market, em abril, os mercados de ações dos Estados Unidos entraram em alta e os custos de captação caíram, ante os picos recentes, já que os investidores apostaram em que o Fed manteria seu estímulo monetário, e que as pressões inflacionárias deste ano serão transitórias.

Houve uma onda de vendas de títulos do Tesouro americano depois do comunicado do Fed, e o rendimento sobre os títulos de cinco anos do Tesouro subiu em 0,07 ponto percentual, para cerca de 0,85%.

A nota de dois anos do Tesouro americano, um instrumento mais sensível em termos políticos, estava sendo negociada com alta de 0,02 ponto percentual, a 0,18%, enquanto o título de referência do Tesouro, o de 10 anos, registrou alta de 0,04 ponto percentual, para 1,54%. Isso fica abaixo dos picos recentes registrados em março, mas ainda representa alta na semana. O rendimento dos títulos cresce quando os preços caem.

O Fed também anunciou nesta quarta que ajustaria duas taxas técnicas, entre as quais a taxa que paga aos bancos sobre reservas excedentes que eles depositam no banco central. A taxa IOER foi elevada para 0,15%, ante 0,10%. O banco central também decidiu pagar mais de zero em seu programa de recompra reversa, aumentando a taxa para 0,05%.

Os bancos e fundos de mercado monetário elegíveis estão pedindo para depositar dinheiro no overnight do Fed, porque há poucos lugares alternativos em que investir com rendimento positivo as enormes quantias de dinheiro acumuladas em seus cofres desde o começo do ano. O Fed declarou em comunicado que os ajustes têm por objetivo apoiar “o funcionamento suave dos mercados de financiamento em curto prazo”.

Tradução de Paulo Migliacci

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