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Jornalista e escritor, autor das biografias de Carmen Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues, é membro da Academia Brasileira de Letras.

Descrição de chapéu Rio de Janeiro

A volta da coruja

Onde mais poderia acontecer um ménage à trois entre corujas?

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Ao contrário do que parecia, ela era ele - Heloisa Seixas/Arquivo Pessoal

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Pouco antes de sair de férias, contei a história da coruja que apareceu na praia de Ipanema, pousada sobre um toco na areia, a poucos metros da calçada. Todos que passavam paravam para espiar, e a coruja, toda prosa, se deixava admirar. Ipanema é um habitat natural de gaivotas, fragatas, biguás, urubus e até gaviões, vindos das ilhas defronte. São aves solares, das grandes alturas, e voam no maior à vontade por ali. Mas as corujas são bichos noturnos, devem gostar de frio, e o que uma delas estaria fazendo no único bairro do mundo onde é sempre verão?

Um leitor arriscou que se tratava de uma coruja-buraqueira tentando fazer um ninho, e que eu procurasse por um companheiro dela. Fiz isto e foi batata —lá estava, ao pé do toco, um buraco na areia e outra coruja sentada e compenetrada. Significava que a coruja que se exibia para os passantes era o macho, velando pela fêmea e por seus ovos. Isto, para mim, tornou ainda mais tocante a cena. As duas corujas perfaziam um sólido casal a caminho de constituir família —e, mais uma vez, num bairro como Ipanema, em que a instituição da família foi tão torpedeada nas décadas de 1960 e 1970. 

Assim, durante as férias, pude acompanhar diariamente o progresso daquele lar. Não dava para ver os ovos, claro, mas, pela tranquilidade da coruja-mãe, parecíamos a caminho de um final feliz. De repente, um estranho no ninho —uma terceira coruja apareceu no pedaço.

Postou-se no toco vizinho e dividia seu olhar entre a fêmea no chão e o colega a seu lado. Tudo indicava que era outro macho —e, quem sabe, o verdadeiro pai da ninhada. Só mesmo em Ipanema. O ménage à trois prolongou-se por alguns dias até que, semana passada, todos desapareceram. Foram embora. Nenhum sinal, nem dos ovos. Pelo visto, resolveram-se.

A crônica de hoje deveria ser sobre o sexo dos anjos. Mas estamos em falta de anjos. Daí, as corujas.
 

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