Jornalista e escritor, autor das biografias de Carmen Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues, é membro da Academia Brasileira de Letras.
O fim do sonho
A entrada cruel e desleal do destino
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Eles nunca mais vestirão a camisa do clube que amavam ou viriam a amar. Nunca mais a suarão nos treinos, em que davam tudo para se superar e superar os colegas com quem dividiam o esforço, a dedicação e os sonhos —dividiam também o alojamento fatal. Nunca mais esperarão a hora de ser chamados no banco, tirar o agasalho e entrar em campo para mostrar o que sabiam. Nunca mais ansiarão pela bola que viria do alto para o seu domínio ou pelo passe de um companheiro, à feição do chute que levaria ao gol consagrador. Nunca mais receberão uma bola.
O goleiro nunca mais precisará exercitar sua capacidade de concentração, a ser desenvolvida nas menores ocorrências do dia a dia —para que, sob seu gol, ele pudesse esperar pelo inesperado, prever o imprevisível e defender o indefensável. Como último baluarte, atrás da linha de seus companheiros, estas eram suas responsabilidades. Agora essas responsabilidades cessaram —ele pode finalmente relaxar. O mesmo com o zagueiro —a ameaça do atacante adversário invadindo a área com seu poder de choque, a ser enfrentada com poder equivalente e neutralizada, fica agora suprimida. Quem sabe os dois não eram amigos, quase irmãos, fora de campo? Pois agora o serão para sempre —e apenas isto, não mais adversários.
Pois era isto o que talvez todos fossem, quase irmãos. O futebol já os ensinara que ninguém joga sozinho, que eles estavam ali para ajudar uns aos outros. Daí a humildade em nunca se gabarem de seus feitos e a expressão corrente nas entrevistas aos repórteres: “Fiquei feliz de ajudar meus companheiros com meu gol”. Talvez levassem para a vida essa solidariedade —o que, se aplicado em grande escala, tornaria o mundo melhor, menos egoísta.
Era um sonho maravilhoso, interrompido por uma entrada cruel e desleal do destino quando apenas começava a se tornar realidade.
Eles nunca mais sonharão.
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