Siga a folha

Jornalista e escritor, autor das biografias de Carmen Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues, é membro da Academia Brasileira de Letras.

Tarsila sincera

Não, ela não participou da Semana de Arte Moderna

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

Nos três meses e meio de duração da grande exposição de Tarsila do Amaral no MASP, encerrada na semana passada, devo ter lido e ouvido dezenas de vezes que ela foi uma das estrelas da Semana de Arte Moderna, em 1922. É natural. Dentro da impressionante mitologia criada nos últimos 50 anos em torno da Semana, já li até que, por causa desta, aconteceram a revolta dos 18 do Forte de Copacabana, em julho daquele ano, e a Revolução de 1930. 

Os autores dessas afirmações ficariam surpresos ao saber que alguns dos principais nomes da Semana, como Oswald de Andrade e Menotti del Picchia, levaram toda a década de 20 exatamente do lado que aqueles movimentos queriam derrubar —o lado do poder, do atraso, da oligarquia cafeeira. Oswald era íntimo de Washington Luiz —aliás, seu padrinho de casamento com Tarsila— e del Picchia, nada menos que ghost-writer do então governador de São Paulo e futuro presidente deposto.  

Tarsila não fez parte da Semana de Arte Moderna. Não sou eu quem o diz. É ela própria, em textos de 1947 e 1952, no magnífico livro “Tarsila Cronista” (Edusp, 2001), editado por Aracy Amaral: “De 1922 para cá [...], muitos têm se inserido na lista de seus participantes, nomes de artistas plásticos e literatos que não tomaram parte naquele certame artístico. [...] Até hoje insistem alguns cronistas em colocar meu nome entre os corajosos realizadores da Semana de Arte Moderna”.

“Nessa época”, continua Tarsila, “eu me achava em Paris, estudando pintura, e não me nego a dizer que fiquei bastante chocada ao saber que em São Paulo se atacava Olavo Bilac”. Não apenas estudando pintura, mas pintura acadêmica, no atelier de Émile Renard, o mais conservador de Paris. 

Claro que, ao voltar para São Paulo, quatro meses depois da Semana, Tarsila iria conhecer os modernistas. E não apenas se converteria, como se tornaria a melhor entre todos eles. 
 

Oswald de Andrade e Tarsila do Amaral, em 1927 - Museu da Imagem e do Som

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas