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Jornalista e escritor, autor das biografias de Carmen Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues, é membro da Academia Brasileira de Letras.

Ex-maior do que a vida

Vamos ter de nos acostumar ao cinema como um esporte solitário

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O mundo pós-pandemia será diferente —quantas vezes você não leu ou ouviu isso nos últimos dias? Mas a história do ser humano é a de sua eterna adaptação ao novo, seja ótimo ou horrível. O mundo pós-internet também é diferente e já há uma geração que não conhece outro. Nós mesmos, maiores de 200 anos, mal nos lembramos de quando ainda passávamos telegramas. Para isso tínhamos de ir ao correio e compor um texto "telegráfico" —curto, seco, terminando em "Abracos"—, que um funcionário, o telegrafista, "escrevia" numa maquininha que fazia tec-tec, tecs estes representando os pontos e traços que formavam cada letra da mensagem.

Todas as artes chegarão afetadas ao pós-vírus, em particular o cinema. Ele perderá sua condição de único veículo de fruição coletiva e de massa —justo o que o tornou, desde sempre, diferente. Em meados dos anos 40, por exemplo, com a 2ª Guerra e tudo, 100 milhões de pessoas por semana iam ao cinema nos EUA e outras tantas no planeta. Salas para 3.000 pessoas eram comuns, e nada como um cinema lotado para potencializar a apreciação de um drama, um filme de ação e, principalmente, uma comédia.

Se há tempos isso já era impossível, agora será impensável. As salas terão sua capacidade limitada a 25%, com os gatos pingados a dois metros um do outro. Os drive-ins, com só uma ou duas pessoas em cada carro, não serão solução. Ir ao cinema será pouco melhor do que assistir a um filme em casa, pela TV, pelo vídeo ou pelo streaming --o que, mesmo a dois, equivale a um esporte solitário.

Mas o ser humano se acostuma. Há muito que "West Side Story", "Lawrence da Arábia" e outros monumentos, feitos para telas maiores do que a vida, mudaram-se para telinhas de 20 polegadas. Seus heróis ficaram do tamanho de uma pulga, e nos adaptamos.

O cinema talvez fosse maior do que a vida. Mas a vida o encolheu às suas dimensões.

Cena do filme "Lawrence da Arábia", de 1962 - Divulgação

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