Siga a folha

Jornalista e escritor, autor das biografias de Carmen Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues, é membro da Academia Brasileira de Letras.

Leituras a dois

Em 1968, Lévi-Strauss, Marcuse e McLuhan ditavam as aventuras lítero-amorosas dos jovens

Assinantes podem enviar 7 artigos por dia com acesso livre

ASSINE ou FAÇA LOGIN

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

A mulher trintona, intelectualizada e atraente perguntou ao repórter dez anos mais novo, a quem ela dera carona no fim do expediente: “Você já leu Lévi-Strauss?”. Receoso de dizer que não e passar por alienado, ele tartamudeou algo que tanto podia significar “Claro, em francês!” quanto “Ainda não, só as orelhas”. A mulher continuou: “Precisamos ler Lévi-Strauss. Por acaso, tenho aqui comigo ‘O Cru e o Cozido’, que acaba de sair no Brasil”. E, esticando o braço sem tirar o olho da direção, pegou o livro no banco traseiro do Fusca.

Estávamos em 1968, grande ano para mulheres adultas e independentes e garotos aspirantes a ardentes aventuras lítero-amorosas. A proposta dela era irresistível: “Vamos ler juntos? Que tal no seu quarto no Solar?”. O rapaz acabara de se mudar para o já lendário Solar da Fossa, um ex-convento em Botafogo que jovens artistas, jornalistas e desajustados em geral, criativos, românticos e duros, tinham convertido em seu lar —o lar mais liberal do Rio. O carro foi deixado na calçada em frente e os três adentraram o Solar: ele, ela e o Lévi-Strauss.

Aconteceu que a leitura de “O Cru e o Cozido”, um denso compêndio de antropologia sobre os mitos ameríndios, não passou da página 2, porque eles logo descobriram coisa melhor para fazer.

Outros livros típicos do ano eram “The Medium Is the Massage”, de Marshall McLuhan (então ainda inédito aqui), “Eros e Civilização”, de Herbert Marcuse, e “Os Meios de Comunicação de Massa”, de Edgar Morin, assim como títulos mais antigos, mas que, pelas circunstâncias, tinham voltado à moda, como “1984”, de George Orwell, e “As Portas da Percepção”, de Aldous Huxley. Todos de obrigatória leitura a dois. Mas, lembre-se, era 1968, e raros os rapazes e moças que passamos da página 2 de cada um.

Ouvi dizer que “O Cru e o Cozido” saiu de novo no Brasil. Oba, finalmente vou lê-lo além da página 3!

Edições originais de “Eros e Civilização”, de Herbert Marcuse, e “The Medium is the Massage”, de Marshall McLuhan, leituras de 1968 - Heloisa Seixas

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas