Li há pouco que fulano "rasgou elogios" a beltrano. Quer dizer que ainda se rasgam elogios? Sim, todo dia alguém rasga elogios a outrem. Tornou-se um clichê, mas as pessoas não se tocam e continuam rasgando elogios. Quando os elogios são recíprocos, diz-se que é uma "rasgação de seda". Não é difícil visualizar alguém rasgando seda —dá-se um talho com tesoura e o tecido vai se rasgando quase sozinho. Mas nunca soube como se rasga um elogio.

Mais fácil é entender o significado de "costurar um acordo". É o que todos os políticos vivem fazendo —costurando acordos. Alguns devem fazê-lo à mão, espetando o dedo, e outros à velha Singer, pedalando freneticamente. Posso até vê-los munidos de carretel, agulhas, alfinetes e talvez um dedal, prontos a costurar duas folhas de papel, a resultar no dito acordo. Mas uma fonte me garantiu que o importante é o chuleio, o ato de prender a linha para que o acordo não desfie. "Qualquer político de quinta é capaz de costurar um acordo", disse a fonte, "mas só os mais espertos sabem chulear".

E o que dizer de "desenhar um projeto"? Às vezes até faz sentido. Acho normal quando ouço, por exemplo, que os analfabetos que cercam Jair Bolsonaro estão desenhando um projeto para ser apresentado ao Congresso. Por que não? Como nenhum deles sabe escrever, o jeito é desenhar. Só que, pela qualidade do desenho, não surpreende que nunca tenham um projeto aprovado.

E raro o dia em que não recebo uma simpática mensagem que começa com "Passei aqui para te dizer que...", seguindo-se o que a pessoa queria dizer. Ao ler isto, imagino essa pessoa em sua casa, saindo talvez do banheiro, passando casualmente pelo celular ou pelo computador e se lembrando de algo que tinha a me dizer.

Convivo bem com essas frases feitas, como a mensagem de passagem e o projeto desenhado. Sou também a favor de elogios, mesmo rasgados. Só prometi à mamãe nunca costurar acordos.