Siga a folha

Jornalista e escritor, autor das biografias de Carmen Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues, é membro da Academia Brasileira de Letras.

Música entre as esferas

E se Gyorgy Ligeti (100 anos outro dia) obrigasse Kubrick a tirar sua música da trilha sonora de 2001?

Assinantes podem enviar 5 artigos por dia com acesso livre

ASSINE ou FAÇA LOGIN

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

Nove entre dez fãs de "2001: Uma Odisseia no Espaço" (1968), de Stanley Kubrick, ao se lembrarem da música do filme, pensam em "Also Sprach Zarathustra". Trata-se da fanfarra de Richard Strauss, que torna épica a sequência da descoberta pelos macacos do osso como arma. Kubrick volta a ela na enigmática cena final, quando o feto-estrela surge no espaço. Com isso, "Zarathustra" gerou incontáveis comerciais de TV, paródias de humor e até uma empolgante versão por Eumir Deodato, com toques de baião, que vendeu milhões de discos em 1972.

Mas, somando as duas passagens, "Zarathustra" dura só 2min55seg na trilha do filme. O próprio "Danúbio Azul", de Johann Strauss (sem parentesco com Richard), que imortalizou a dança das naves entre as esferas e reaparece nos créditos, soma 13min59seg. O principal compositor de "2001", de longe, é o experimentalista húngaro Gyorgy Ligeti (1923-2006) —100 anos outro dia. Suas três composições utilizadas por Kubrick ocupam nada menos que 27min28seg na tela. Com tudo isso, o pessoal só se lembra do "Zarathustra".

É de Ligeti a música que pontua alguns dos momentos mais cruciais da trama, uma delas a descoberta do monólito. Sempre que o bicho surge ou vemos os seus efeitos ouve-se o "Requiem for Soprano, Two Mixed Choirs & Orchestra", uma sinistra sarabanda de vozes que parecem gargalhar ou gargarejar. O suave "Lux Aeterna" acompanha a primeira nave em busca do objeto na Lua, ao passo que os hipnóticos "Atmosphere" e "Adventures" são a trilha da viagem psicodélica que termina naquele cenário do século 18.

Kubrick usou no filme as gravações do próprio Ligeti, que o acusou de tê-las remixado sem autorização. Ligeti foi à Justiça e ganhou uma reparação, não sei se moral ou em dinheiro. Por sorte, não brigaram —imagine se ele obrigasse Kubrick a tirar sua música do filme.

"2001" teria ido para o espaço.

Imagem clássica de '2001: Uma Odisseia no Espaço' e LP original e CD da trilha sonora do filme - Heloisa Seixas

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas