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Jornalista e escritor, autor das biografias de Carmen Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues, é membro da Academia Brasileira de Letras.

Excelência aos berros

'Vossa Excelência é um purgante!', disse um. 'E Vossa Excelência é o resultado desse purgante', disse o outro

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Há dias, num tribunal em Xanxerê (SC), uma juíza do Trabalho esbravejou contra uma testemunha exigindo ser chamada de "Excelência". Como o homem não entendesse, Sua Excelência, descontrolada, trovejou, bramiu, mandou-o calar a boca e dispensou-o aos berros. Mas a juíza se deu mal. Seu destempero estava sendo gravado e "viralizou" nas redes. Foi suspensa das funções e, pelos próximos tempos, exercerá sua excelência em casa.

Por si, o tratamento de "Excelência" não garante nada. Carlos Lacerda, terrível polemista das bancadas, usava-o para destruir seus adversários. Certa vez, na Câmara, o deputado alagoano Ari Pitomba o ofendeu: "Vossa Excelência é um purgante!". Ao que Lacerda rebateu: "E Vossa Excelência é o resultado desse purgante!". Em outra, num discurso, Lacerda citou uma frase em francês e seu inimigo pessoal, o deputado Roland Corbisier, do PTB da Guanabara, zombou de sua pronúncia. Lacerda nem piscou: "Infelizmente, ao contrário de Vossa Excelência, não sou filho de mãe francesa..." —o que todos na época sabiam o que queria dizer.

Mas isso foi no tempo em que os políticos se agrediam com urbanidade. Hoje parlamentares mimoseiam-se no Congresso com "Vossa Excelência é um filho da puta!" e "Filho da puta é a mãe de Vossa Excelência!", e vai tudo para os anais.

Quanto a mim, sou a favor do respeito. Em 1967, ao atazanar Guimarães Rosa por telefone para uma entrevista sobre sua posse no dia seguinte na Academia Brasileira de Letras, só o chamei, claro, de "embaixador". Mas ele, muito amável, não me recebeu. E, em 1983, ao entrevistar Jânio Quadros para a Folha em sua casa no Guarujá, tratei-o pelo obrigatório título de "presidente".

A conversa com Jânio, ótima, avançou pelo dia, regada a vodcas, uísques, cervejas e licores, servidos por ele. Nunca um presidente entornou tantas —hic!— e continuou a ser chamado de "presidente".

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