Descrição de chapéu Folhajus CNJ

Juíza de SC que gritou com testemunha pede licença médica

TRT diz que magistrada tem histórico de afastamentos para tratar transtorno bipolar

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Curitiba

A juíza substituta Kismara Brustolin, da Vara de Trabalho de Xanxerê, em Santa Catarina, pediu nesta quarta-feira (29) uma licença médica de 15 dias. Ela se tornou alvo da Corregedoria do TRT-12 (Tribunal Regional do Trabalho da 12ª Região) e da Corregedoria do CNJ (Conselho Nacional de Justiça) depois de vir à tona um vídeo no qual aparece gritando com uma testemunha durante uma audiência judicial que conduzia. A magistrada não quis se manifestar sobre o episódio.

O TRT informou, nesta quinta (30), que a juíza teve uma série de afastamentos desde 2014 para tratamentos de saúde ligados a transtorno bipolar.

O tribunal aponta que foram praticamente três atestados de 30 dias por ano, durante oito anos, e que, desde janeiro de 2022, a doença era considerada estabilizada.

Ainda segundo o TRT, o afastamento médico não interfere no procedimento instaurado na Corregedoria do tribunal para apurar irregularidades em sua conduta durante a audiência. Ela já estava impedida de fazer novas audiências, por decisão da Corregedoria, anunciada na noite de terça (28), mas ainda podia assinar despachos e sentenças pendentes.

A juíza Kismara Brustolin, que tem graduação pela Universidade do Oeste de Santa Catarina (Unoesc), tomou posse como magistrada do TRT-12 em março de 2010. Antes, também já tinha trabalhado como técnica e analista judiciária.

A audiência na qual a juíza grita com a testemunha ocorreu em 14 de novembro, por volta das 15h, no formato de videoconferência.

No vídeo que circula na internet, a juíza trabalhista grita com uma das testemunhas e exige que ele a chame de "excelência". "Você tem que dizer assim: o que a senhora deseja, excelência?".

A testemunha pede desculpa e se coloca à disposição. "Eu chamei a sua atenção. O senhor tem que responder assim: o que a senhora deseja, excelência? Repete, repete", insiste ela.

Juíza Kismara Brustolin, da Vara de Trabalho de Xanxerê (SC), grita com uma testemunha durante audiência de instrução por videoconferência realizada em 14 de novembro - @diretodomiolo no X

"Eu sou obrigado a isso?", pergunta a testemunha. "O senhor não é obrigado, mas, se não fizer isso, seu depoimento termina por aqui e será totalmente desconsiderado", responde a juíza.

Em um momento, a juíza interrompe a fala da testemunha, diz que ele é "bocudo" e determina sua retirada da videoconferência.

Na sequência, a magistrada afirma ao advogado do caso que desconsiderou o depoimento do homem porque ele "faltou com a educação". "Se o senhor quiser registrar os seus protestos, eu aceito e o senhor pode recorrer. Ele [a testemunha] não cumpriu a urbanidade e a educação", continua.

A seccional de Santa Catarina da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) classificou o episódio de "lamentável" e, em ofício ao TRT-12 na terça, pediu "providências urgentes no sentido de apurar com rigor o ocorrido".

Em uma primeira manifestação, o TRT-12 divulgou uma nota na qual afirmava se tratar de "um fato isolado" e que haveria apuração.

Na quarta (29), o corregedor nacional de Justiça, ministro Luis Felipe Salomão, abriu uma reclamação disciplinar para apurar a conduta da juíza.

Ele afirma que chegou ao seu conhecimento, por meio da imprensa, que a magistrada teria "adotado postura que, em tese, pode violar deveres funcionais da magistratura".

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