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É jornalista e médica veterinária, com mestrado e residência pela Universidade de São Paulo.

Descrição de chapéu Coronavírus

Covid-19 já anuncia as próximas epidemias

Danos causados por estresse e pela falta de exercícios também vão nos matar

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"Pandemia destruiu produção industrial brasileira em abril"

"Com mais 327 mortes, SP bate recorde de óbitos e de novos casos confirmados de Covid-19"

"População foi liberada para ir ao abatedouro, diz integrante do portal Covid-19 Brasil"

O dia começa com essas manchetes há quase três meses. Não é culpa dos jornais, como os negacionistas gostam de sustentar. À imprensa cabe retratar de forma crítica. O problema está no objeto a ser retratado — o mundo anda tristemente monotemático.

Tem sido tão duro que esta Folha usa o chapéu “Dias Melhores” na publicação de reportagens sobre histórias em que a cultura, a criatividade, a generosidade, a saúde e a economia sobrevivem à epidemia. Tem dias que o “Dias Melhores” some das páginas do jornal.

Mais da metade dos brasileiros (53%), segundo o Datafolha, pegou Covid-19 ou conhece alguém que pegou. E cercados pela ameaça à qual, tudo indica, iremos todos sucumbir com menor ou maior intensidade, a maioria se sente cada vez mais acuada. Já somos 79% com medo (ou muito medo) de adoecer —emoção verbalizada mais frequentemente por mulheres e pessoas mais pobres na mesma pesquisa Datafolha, divulgada no último dia 2.

Estamos mais medrosos e mais paralisados. Um levantamento feito pela empresa norte-americana Fitbit analisou os dados registrados por cerca de 30 milhões de dispositivos que contam o número diário de passos dados por seus usuários. Na primeira semana de abril, essas pessoas deram, em média, por país, de 16% a 23% de passos a menos do que haviam dado na primeira semana de março, mas há cidades em que essa queda foi de 50%.

Foi nesse mesmo período que uma pesquisa feita com 1.500 norte-americanos acendeu uma luz de alerta: no primeiro mês de crise sanitária 55% dos entrevistados já diziam que as mudanças provocadas pelo coronavírus afetava a saúde mental deles e 71% afirmavam ter medo de sentir (ou de continuar sentindo) esse impacto negativo nos próximos meses. Os resultados não diferem muito daqueles apurados por pesquisadores que ouviram 1.006 italianos durante o mês de março.

Mas isso foi há 60 dias. De lá para cá, mais gente adoeceu, mais gente morreu, mais gente perdeu o emprego... e menos a gente sabe sobre quando a vida voltará a algo que se possa chamar de normal.

Não é novidade que experiências prolongadas de desconexão social estão associadas ao aumento de casos de depressão, ansiedade, insônia, pensamentos suicidas e exaustão emocional.

Quando essa desconexão social se dá, no entanto, não por desejo ou alteração de comportamento individual, mas por uma crise de saúde pública, temos que somar a esses riscos ou desafios a necessidade de ficarmos confinados em locais nem sempre confortáveis, a expectativa de adoecer e o estresse pelos problemas financeiros que já se instalaram ou que nos espreitam da esquina.

É uma receita explosiva: um bocado de medo, pitadas diárias de incerteza, uma dose a mais de álcool (sim, há indícios de que estamos bebendo mais) e cada vez menos exercícios físicos.

Está formado o embrião das nossas próximas epidemias. A primeira, de perda de saúde mental, e a segunda, de doenças crônicas, agravadas pela falta de atividade física.

Mas, aí, as mortes terão muitas caras. Morreremos de tristeza, de suicídio, de obesidade, de diabetes, de tantos males cardiovasculares. Morreremos ao longo de muitos meses, misturados às tantas estatísticas, sem que essas mortes chamem a atenção. E aí vai parecer que tudo voltou ao normal.

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