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Advogado, professor visitante da Universidade de Columbia, em Nova York, e presidente do Instituto Luiz Gama.

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Contra as mães e contra a vida

Por não gostar da vida, o Brasil não gosta de mães

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Nas livrarias deste país haverá ao menos alguma prateleira com livros que tratam da “crise da democracia”.

Sobre esse tema, as interpretações são de todos os tipos e para todos os gostos: de abordagens mais historicistas às mais sociológicas; de obras ancoradas em uma visão liberal e saudosa de um suposto paraíso perdido a outras, que reputo mais sofisticadas, que veem o processo de esvaziamento da democracia como uma dimensão da crise do capitalismo.

Ao lado desses livros que narram o ocaso da democracia e a decomposição da vida social brasileira há um relato pessoal que é também uma interessante página da nossa história recente: “Revolução Laura”, escrito pela jornalista e ex-deputada federal Manuela d’Ávila (PC do B).

No livro, Manuela fala sobre como a presença de sua filha, Laura, transformou sua vida. Na última campanha presidencial em que foi candidata à Vice-Presidência da República na chapa de Fernando Haddad, ao mesmo tempo em que carregava sua filha em um braço e panfletos em outro, Manuela conviveu com ataques misóginos e inúmeras mentiras.

Importante notar que vários desses ataques, como costuma acontecer quando se trata de mulheres, envolviam seu corpo. Contra a força vital da relação entre mãe e filha, levantou-se a pulsão de morte que mobiliza os atuais ocupantes do governo do Brasil.

Da campanha eleitoral de 2018 para cá as coisas no país pioraram bastante, e a violência política ampliou-se de tal modo que a cada dia torna-se mais difícil distinguir instituições do Estado de grupos milicianos.Em coluna anterior já mencionamos as ameaças de morte dirigidas à deputada federal Talíria Petrone (PSOL-RJ).

E nesses últimos dias soubemos de uma nova onda de ameaças de morte, de violência sexual e insultos contra Manuela, mas desta vez dirigidos diretamente contra sua filha, uma criança de cinco anos.

O que se pode dizer sobre um país que matou a jovem Kathlen Romeu, grávida de seu primeiro filho, que não chegou aos mandantes do assassinato da vereadora e mãe Marielle Franco e em que as autoridades não oferecem proteção a mães ameaçadas de morte é que se trata de um país que odeia mães.

Um país que elegeu Bolsonaro e que o mantém no poder adquiriu tal gosto pela morte que precisa destruir tudo que carrega a possibilidade de gerar a vida, incluindo as mães, tanto as atuais como as potenciais.
O Brasil não se restringe a eliminar a vida biológica. O que está em jogo é a própria ideia de ser mãe.

Sob essa lógica, as mulheres devem sentir medo de gerar, para que, deste modo, a existência fique reduzida à obediência e ao medo. Por isso, os ataques sofridos pelas mulheres têm como objetivo muito mais do que controlar ou matar seus corpos. O que se quer, sobretudo, é arrancar-lhes a alma, matando seus filhos ou os expondo a constante ameaça.

Esse horror não se deve apenas a um governo notoriamente incompetente e criminoso. A sociedade brasileira é desigual e autoritária e comporta um Estado historicamente violento e racista. A verdade é que o Brasil é uma ameaça existencial às mães e filhos deste país. Hoje, o Brasil é o país que compromete o futuro.

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