Siga a folha

Bióloga e neurocientista da Universidade Vanderbilt (EUA).

Descrição de chapéu Mente dinossauro

Tiro o chapéu: tiranossauro tinha cérebro digno de primata

Um experimento com a combinação preprint + Twitter

Assinantes podem enviar 5 artigos por dia com acesso livre

ASSINE ou FAÇA LOGIN

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

Eu não fui daquelas crianças apaixonadas por dinossauros. Em retrospecto, acho que era por incapacidade de visualizar os bichões como animais reais, que um dia dominaram a face da Terra. Sem o lastro dessa compreensão, eu não entendia muito o fascínio da maioria com esses répteis gigantes.

Algumas décadas e muito estudo depois, não só dou o braço a torcer, com muito gosto, como tenho a honra de ajudar a elevar ao menos um ramo dos dinossauros, os terópodes, no Panteão dos Animais Injustiçados. Minha contribuição? Acabo de demonstrar, em um preprint publicado no repositório bioRxiv.org, que os terópodes —os dinossauros bípedes, como o icônico Tyrannosaurus rex— tinham tantos neurônios no telencéfalo quanto primatas modernos.

Sabe aquele bichão do "Jurassic Park"? Agora imagina ele com o cérebro de um babuíno. Enorme, com dentes perfurantes como agulhas de titânio, e um telencéfalo biologicamente capaz de raciocínio e cognição flexíveis, e portanto inteligente. Só mesmo uma ilha para conter um animal assim.

Réplica do Tyrannossauros rex na exposição O Mundo dos Dinossauros e o Zoológico de São Paulo - Davi Ribeiro - 9.set.14/Folhapress

("Mas você não teve um cérebro de tiranossauro pra estudar", perguntou minha mãe, "então como pode saber quantos neurônios eles tinham?" Respondo em duas semanas —ou mate sua curiosidade agora já em bioRxiv.org e descubra você mesmo para que serve um preprint!)

Assim como a grande maioria de meus colegas cientistas, eu normalmente aguardo um artigo científico ser revisado por pares e publicado oficialmente em uma revista antes de comentar qualquer descoberta. Mas esta somente é a norma na área biológica. Os físicos têm uma visão muito mais prática e liberal dos preprints, nome que se dá aos relatórios depositados em serviços online como arxiv.org e biorxiv.org, onde ficam disponíveis ao público, e ao escrutínio aberto dos pares, enquanto a publicação oficial tramita em revistas (o que pode levar meses).

Como estava prestes a falar sobre minhas novas descobertas a respeito de cérebros de dinossauros em uma reunião científica semana passada em Praga, na República Tcheca, resolvi depositar o artigo, já submetido para publicação, no bioRxiv, onde minha plateia poderia consultá-lo. Para completar o experimento, reativei minha conta no Twitter, e anunciei a descoberta —com o link para o preprint— com recado para um dos principais paleontólogos atuais, Steve Brusatte, autor do livro que me serviu de cartilha de alfabetização em dinossauros.

Brusatte não retuitou, mas respondeu— e em um dia, dois paleontólogos desconhecidos haviam gentilmente apontado dois erros factuais em meu artigo (que eu prontamente verifiquei e corrigi), enquanto elogiavam o estudo e os achados. Em quatro dias, o preprint já foi visto mais de 2.000 vezes, e baixado mais de 500.

Não sou paleontóloga, mas a combinação de duas mídias digitais me deu visibilidade, e ainda me fez sentir-me bem-vinda pela comunidade. Quem diria: ciência motiva interações positivas nas redes sociais.

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas