Siga a folha

Historiadora e jornalista especializada em América Latina, foi correspondente da Folha em Londres e em Buenos Aires, onde vive.

Descrição de chapéu Coronavírus

Entregar benefícios e equipar hospitais em pouco tempo será desafio na América Latina

Fernández quer evitar que Grande Buenos Aires se torne epicentro da pandemia na Argentina

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

"A periferia pode ser nossa Wuhan."

Assim expressa o presidente argentino, Alberto Fernández, seu temor de que a Grande Buenos Aires, conhecida como "conurbano", torne-se o epicentro da pandemia de coronavírus no país.

E o mesmo pode ocorrer nas periferias de cidades como Bogotá, Lima, Caracas e São Paulo.

Com seus quase 11 milhões de habitantes, a maior parte dos municípios do "conurbano" de Buenos Aires é de classe média baixa ou extremamente humilde.

Distrito de La Matanza, na Grande Buenos Aires - jun.17/Clarín

Num passeio que realizei por La Matanza, um dos locais mais populosos da região, o cenário era desolador. Outrora caótico, cheio de gente e de comércio de rua, La Matanza estava às moscas.

Viaturas da polícia vigiavam o que cada um estava fazendo fora de casa.

O medo dos moradores é latente. Existe o temor de como eles vão enfrentar a doença economicamente.

Conversei com alguns dos moradores. Alguns contam, de seus quintais e janelas, que em suas casas há um quarto e uma sala, ou apenas um quarto-sala. Aí vivem três, cinco até oito pessoas.

"Não tem como fazer isolamento. Isolar onde?", pergunta-me uma senhora. "Quando um de nós fica doente, é menos dinheiro que entra para todo mundo da família comer. Aqui ninguém tem carteira assinada."

Outro senhor se mostrou preocupado com os dois filhos, de 21 e 19 anos. "Eles vivem de trabalhos sem carteira assinada, um é eletricista, outro conserta carros. Se tiverem de trabalhar no bairro, ganham a metade do que em Buenos Aires. E ir para lá está difícil."

De fato, desde a última decisão do governo, ônibus, trens e metrôs estão funcionando de forma reduzida, priorizando o transporte de profissionais de saúde ou do setor de abastecimento.

Só é possível entrar o número suficiente para que todos façam o trajeto sentados, garantindo assim o distanciamento entre os passageiros.

O governo anunciou medidas de ajuda aos trabalhadores informais do país, que são nada menos que 40% do mercado de trabalho.

São aumentos em bônus, planos assistencialistas, além de pagamentos extras a autônomos.

Porém, há muita gente deste estrato social que não tem sequer uma conta em banco para receber o benefício, ou um endereço fixo registrado para que ali o dinheiro seja entregue.

O governo diz estar ciente do problema e que encontrará uma maneira de driblar esses obstáculos.

A questão é que a pandemia é uma corrida contra o tempo. E o medo de que o "conurbano" tenha um surto numeroso afeta não apenas quem vive aí, mas se espalha para a capital do país em termos sanitários, de abastecimento e de mão de obra.

Por enquanto, há 12 casos de infectados pelo coronavírus ali. Mas os hospitais já vêm alertando que não poderão dar conta do que se projeta para a região.

Faltam 12 mil leitos de UTI e 1.300 respiradores para atender o que calculam ser necessário.

O governo prevê que o pico do coronavírus na Argentina será em maio, e que 70% dos contaminados estarão em Buenos Aires e em seu "conurbano".

A situação é complexa. Porém, vemos que algo está sendo feito. No Brasil, alguém está pensando nas periferias de nossas grandes cidades?

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas