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Historiadora e jornalista especializada em América Latina, foi correspondente da Folha em Londres e em Buenos Aires, onde vive.

Está aberta a temporada de disputas entre clãs familiares na Colômbia

Poderosos grupos regionais mostram os dentes e tentam se reeleger enquanto respondem por corrupção

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Laura Ardila é uma jovem e valente jornalista da costa da Colômbia. Fez sua carreira ali, investigando política e corrupção na região caribenha de seu país. Trabalhou no El Espectador e no portal Silla Vacía —o último, melhor veículo digital colombiano.

De tanto conhecer os bastidores e intrigas do cenário regional, propôs à editora Planeta um livro que contaria o histórico de corrupção e de falcatruas da família Char. Trata-se de um poderoso clã local, descendente de imigrantes sírio-libaneses que chegaram à Colômbia nos séculos 19 e 20 e fizeram fortuna montando uma cadeia de lojas, estações de rádio e outros negócios, instalados em Barranquilla, Cartagena e outros locais.

Colombianos em seção eleitoral em Bogotá, em junho de 2022 - Jhon Paz - 19.jun.22/Xinhua

Logo buscaram cargos políticos. Fuad Char, o patriarca, é hoje senador, e vários de seus filhos ocupam postos na administração pública. Alex Char, atualmente prefeito de Barranquila, promete ser reeleito, embora esteja respondendo a processos de corrupção. Seu irmão, Arturo Char, não teve a mesma sorte e está atrás das grades. Além deles, a maioria dos mais de dez integrantes do clã responde a processos na Justiça.

Tudo isso estava bem contado no livro "La Cosa Nostra", que Ardila lançaria pela Planeta no primeiro semestre deste ano. Ela conta que realizou o trabalho com muita seriedade e rigor, o que lhe rendeu ameaças de morte. Depois que o livro estava pronto e prestes a ser publicado, a editora, também recebendo ameaças, mudou subitamente de ideia dizendo temer processos e amarelou diante do poder dos Char.

Em épocas como esta, de prévias das eleições regionais para governadores e prefeitos (marcadas para 29 de outubro), os colombianos tiram um pouco de seu foco do poder presidencial. É também nesses tempos que os poderosos clãs familiares regionais mostram os dentes e se apresentam para cargos que já ocuparam antes, ao mesmo tempo em que respondem a processos judiciais referentes àqueles mesmos períodos. Por incrível que pareça, muitos são reeleitos.

Se a eleição presidencial mobiliza a população por sua importância e pelos interesses mais ideológicos e simbólicos que representa, é nas primárias que políticos e marqueteiros se agitam mais. A população está mais febril com suas urgências cotidianas, e seus governadores e prefeitos são figuras mais acessíveis, a quem eles podem levar suas reclamações.

Para ficar em alguns poucos exemplos, os eleitores do departamento (estado) de Cesar têm poucas opções de candidatos num cenário dominado há décadas pela família Gnecco, onde todos obedecem à matriarca Cielo Gnecco. Ela espera eleger um dos filhos, Popo Barros, e estender seu poder ao departamento de Sucre por meio da eleição de outro de seus filhos.

Os irmãos também respondem a processos por corrupção, assim como o pai deles, Lucas Gnecco, que morreu há não muito tempo. Seu enterro foi acompanhado por milhares, e na entrada de sua sepultura havia um altar, como se ele fosse um herói local.

Segundo a fundação Pares, há 294 políticos registrados para as eleições regionais. Destes, 88 têm processos por corrupção em andamento. Dos candidatos que estão de algum modo enrolados com a Justiça, 43% pertencem a clãs familiares.

A boa notícia é que teremos o livro de Laura Arrieta. Depois de ter sido recusado pela Planeta, ele agora está sendo lançado pela Rey Naranjo, uma editora independente que tomou a tarefa e o arriscado desafio de publicá-lo. Mesmo na dificuldade, o jornalismo profissional ainda tem seus férreos defensores.

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