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Cientista política, astrofísica e deputada federal por São Paulo. Formada em Harvard, criou o Mapa Educação e é cofundadora do Movimento Acredito.

Miopia coletiva

Quem ousa se posicionar nas redes sociais com certeza já recebeu ataques

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"Fascista liberal", publica uma pessoa. "Comunista do inferno. Vagabunda!!!", comenta outra, poucos dias depois.

Quem ousa se posicionar nas redes sociais com certeza já recebeu ataques assim. Eles vêm de todo o espectro político e, por mais que machuquem, são tão absurdos que chegam a ser cômicos, especialmente quando aparecem lado a lado em um intervalo tão curto de tempo.

A primeira publicação foi uma reação ao meu voto favorável à autonomia do Banco Central; a segunda, ao PDL que apresentei para suspender o novo edital do Programa Nacional do Livro Didático, que contém graves retrocessos em relação à promoção da diversidade e ao combate a preconceitos.

Em efeito manada, uma horda de seguidores é incitada a reproduzir sem nenhuma reflexão o que dizem seus falsos gurus. Independentemente de sua localização no espectro ideológico, usam táticas muito similares: a afirmação de uma suposta superioridade e pureza intelectual misturada com xingamentos e ameaças.

Para mim, é evidente o quanto essa miopia coletiva está corroendo a nossa democracia, mas é possível interrompermos esse ciclo vicioso? Se essas pessoas pudessem se observar, será que achariam o seu comportamento absurdo? Parece-me que algo próximo a isso está acontecendo e que temos aí uma oportunidade de avançar enquanto sociedade.

De bolsonaristas a petistas, todos discordam das atitudes de Lumena, participante do BBB 21. Pouco afeita ao diálogo, ela se coloca sempre como dona da razão. Pautas coletivas são distorcidas para legitimar interesses individuais, como foi o caso em seus ataques bifóbicos ao Lucas e suas tentativas de colocar o Gil, um homem negro, como contrário às mulheres negras por ele não querer se aliar ao seu grupo.

O filósofo Wilson Gomes disse que, com o BBB, "a esquerda ganhou um espelho e não gostou do que viu". Minha dúvida é: será que os canceladores de plantão estão conseguindo se enxergar no que está acontecendo?

Penso que seja utópico e até mesmo contraproducente esperar que as pessoas se arrependam, pelo menos publicamente, de suas atitudes. Precisamos é de maneiras de romper esse ciclo. Nós podemos começar com a própria Lumena. Por mais críticos que sejamos em relação às suas atitudes, espero que, aqui fora, como sociedade, saibamos dar-lhe uma segunda chance em vez de optarmos pelo caminho mais fácil da exclusão.

Estou cada vez mais convencida de que, neste momento, a sobrevivência da nossa democracia depende tanto da tolerância com a divergência quanto da inflexibilidade com a intolerância, independentemente de quem seja o alvo.

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