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Seriam as bonecas Barbie demônios ou vítimas?

Livro de Denise Duhamel explora cultura fútil por trás das magrelas de plástico

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Mundo Barbie

Avaliação: Ótimo
  • Preço: R$ 35
  • Autoria: Denise Duhamel
  • Editora: Jabuticaba (150 págs.)

No final dos anos 80, a poeta e feminista norte-americana Denise Duhamel começou a escrever poemas bem ácidos tendo a boneca Barbie como protagonista. São essas pérolas do cinismo e do mais certeiro dedo na ferida que você encontra em “Mundo Barbie”, lançado recentemente pela editora Jabuticaba.

O poema que abre o livro retrata as magrelas de plástico “com necessidades especiais”, a saber: destroçadas por cachorros bravos, mutiladas por um vizinho que precisava palitar os dentes, esquecidas e queimadas por descuidos caseiros. A escritora se coloca no lugar de crianças obsessivas e angustiadas pelo brinquedo perfeitinho: “Nosso impulso de destruir o que é inteiro, de aninhar com amor o que ferimos”.

Não raramente a boneca, ícone soberano de uma futilidade aprendida desde os primeiros anos de vida, aparece se metendo em coisa séria apenas com intuitos levianos: lançou botas durante a guerra do Vietnã, brincou com um frisbee na época da invasão do Panamá e usou um look inspirado em Ivanka Trump quando as tropas americanas lutavam no Golfo.

Há 60 anos, “menininhas sussurram mágoas” para o “plexo solar oco” de suas bonecas Barbie e as colocam para dormir encaixadinhas com eunucos bonecos Ken. Elas não usam calcinha porque a falta de umidade de suas partes íntimas não mancharia nenhuma roupa —“virilhas carecas e contíguas, igualmente secas e insensíveis ao toque”.

Sobre a Barbie negra, a autora escreve: “são exatamente parecidas com Barbies Brancas”. E ainda: “Não haverá mais competição quando emergirmos, idênticas e refeitas, apenas uma sororidade pálida e um amor entorpecido”.

Sobre a Barbie hispânica, conclui que “você pode fingir que ela é espanhola, mexicana, porto-riquenha, colombiana, chilena ou venezuelana” e procurá-la com “facilidade” em lojas de 1,99 “em certos bairros de certas periferias”.

À noite, como muitas mulheres casadas, Duhamel imagina a Barbie sonhando com parceiros “que a Mattel não fez para ela brincar”: calvos, gordinhos, com rastafári.

Barbie sem umbigo, sem útero, sem gordura, sem orgasmo, sem medidas humanas, com uma cintura que mais parece um pescoço, sempre sorrindo, sempre em busca de roupas e maridos. Seria ela o demônio nas mãos de uma garotinha sonhadora ou apenas mais uma vítima de tudo o que uma mulher é ensinada a perseguir para ser amada?

'Mundo Barbie', obra de Denise Duhamel, publicado pela editora Jabuticaba - Reprodução

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