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Mulheres bravas

Homens quase nunca estão loucos

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Semana passada eu, que sou meio brava, almocei com minha amiga Flávia, que é bravíssima.

Contei para ela que ando pensando em medicar minha irritação com "remédio de verdade". Chega de antidepressivos "nova era" para neuróticos funcionais. Aqueles com os quais você gasta uma fortuna para ficar praticamente como era antes. Você tem a mesma libido "como eu vou fazer para parecer uma moça se sou uma bonobo fêmea no cio" de antes. Você continua com o mesmo fascínio por situações, lugares e pessoas que lhe causam pavor & pânico. A nova proposta da psiquiatria moderna: você o mais parecido com você mesmo!

Pensei em tentar uma coisa mais clássica, mais na linha dos "cala a boca, histérica". Uns troços que você não conta em festa que anda tomando. Quero andar por essa cidade pensando "eu sou tão equilibrada, que poderia estar agorinha mesmo em cima de uma corda bamba a 300 metros do chão. E estaria impecavelmente reta".

Flávia, que jamais se medicou e é bravíssima, começou a querer quebrar o restaurante inteiro ao me ouvir. Eu gosto de vê-la assim, acho sexy. Quero parecer uma múmia, Flávia. Uma zumbi de calma soberana. Quero ser tão boazinha e fofa e gelada que uma marca de geladeira vai querer me pagar um milhão só para eu fazer um boomerang abrindo e fechando a porta do freezer.

Certa feita um HOMEM do mercado editorial me falou "essa sua personagem está com muita raiva, isso estraga um pouco a história". Sei que mulher com muita raiva tende a perder vagas como esposas e em empresas caretas e medíocres, mas não sabia que até moça fictícia pode se ferrar caso não seja mais meiga.

Doce, doce. Que pira é essa dos homens com doçura? Não tem um elogio de homem que não tenha a palavra doce na frase. Mas experimente se entupir de açúcar na frente do mais progressista e desconstruído deles? Talvez não falem nada, mas vão apertar seu muque roliço e flácido. Bailarinas princesas não são polenteiras, anjo.

Teve uma vez que um médico HOMEM me falou "talvez você tenha a bipolaridade do tipo 2, aquela que 90% das mulheres têm". Talvez o DIU esteja te deixando assim, disse outro HOMEM. A progesterona é assassina, lembro de ouvir de uma amiga que muitas vezes fala como se fosse homem. Talvez o tratamento para enxaqueca mexa com hormônios? Mulheres e seus hormônios, já diria um HOMEM.

Flávia não acha que eu preciso de remédios. Ela me conta uma história: "Sabe fulano? Foi traído pela equipe, uma galera que ele considerava próxima, chamava até pra passar Natal em sua casa. O cara inventou o projeto. Ele empregou aquelas pessoas. Dava a alma pro negócio. Então, menina, no final, a própria equipe do cara, que não fazia porra nenhuma, tentou afastá-lo. Ele pirou bonito. Quebrou computadores. Mandou chuva de palavrão pra presidente. Sabe o que o mercado fez? Duas semanas depois ele estava empregado em uma empresa maior, ganhando o dobro. Mulheres salivaram: que machão! Sabe por quê? Primeiro porque ele estava certo. Mas principalmente porque ele era homem. E homens quase nunca estão loucos. Homens quase sempre estão certos. Já você, amiga... Você quer fazer o quê com a sua raiva? Você quer tomar remédios fortes! É isso que eles fazem. Me refiro a homens, mulheres, às vezes nossos pais, médicos, maridos, terapeutas, filhos. Conte sua história pra qualquer um. Eles sempre tentam medicar uma mulher. Ou mandar pra meditação".

Ficamos um tempo em silêncio. Até que ela deu um murro na mesa.

"E pare de falar que você é meio brava. Você é bravíssima!".

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