Advogado, é professor de direito internacional e direitos humanos na FGV Direito SP. Doutor pela Central European University (Budapeste), escreve sobre direitos e discriminação.
Como noticiar massacres
Devemos evitar elevar a notoriedade de autores, táticas e ideologias
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"Onde fica aquele lugar onde o que não deveria ‘acontecer a ninguém’ acontece todo dia." Sempre me lembro destas palavras cortantes de Denise Ferreira, no primoroso texto "Ninguém", quando não encontro palavras para descrever o horror. Foi o que senti diante do ataque à creche de Santa Catarina. Enfrentar ataques em escolas requer políticas de educação transversais já identificadas em relatório ao GT de educação na transição ao governo Lula.
Do nosso lado do balcão, qual a responsabilidade da mídia ao reportar massacres? O jornal O Estado de S. Paulo informou nesta quarta-feira (5) que "decidiu não publicar foto, vídeo, nome ou outras informações sobre o autor do ataque em Blumenau, embora ele seja maior de idade". Tal cuidado é fundamental e há muito tempo alertado por especialistas.
A mídia deve impor a si mesma diretrizes, já usadas em outros casos como de suicídio, para evitar o que a literatura tem chamado de "contágio midiático", que pode motivar mais ataques pela forma como são reportados. Estudos e debates nacionais (como do Jeduca) e internacionais já apontam tal contágio. Melhor seria dizer que estamos diante de métodos de imitação, não contágio, o que transfere o debate da linguagem médica para a informacional.
Noticiar massacres de forma responsável requer, acima de tudo, evitar elevar a notoriedade dos seus autores, de suas táticas e de suas ideologias. Eis algumas estratégias: reportar fatos com tom negativo, não como se fosse de uma "celebridade", evitar descrição detalhada de motivações, diminuir a duração da cobertura, em especial em entradas ao vivo, não reportar detalhes das ações antes, durante e depois do evento.
Não entenderemos o horror se o naturalizarmos: episódios de violência em escolas brasileiras não são um fato da natureza; são eventos datados (explosão a partir de 2022), ideologicamente delimitados (na retórica extremista e misógina de direita) e possibilitados por uma educação bancária que não se preocupe com a formação de cidadãos para a paz.
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