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Jornalista e escritor, é autor de "Carolina, uma Biografia" e do romance "Toda Fúria"

Ouro Preto traz história de Minas Gerais impressa, como um palimpsesto

Aguardem por mim, cidades históricas; em breve, o bom viajante retorna ao torrão mineiro

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Passei um final de semana em Ouro Preto. Foi uma viagem inesquecível. Eu já conhecia essa histórica cidade mineira. Estive nela algumas vezes, para trabalho e passeio. Desta vez, nessa viagem nova, foi diferente. Eu curti a cidade, com suas ladeiras, ruas estreitas e casarões do século 18, plenamente conservados.

Eu gosto muito de história e arquitetura. Aprecio andar a pé por onde vou a viajar. Posso me considerar um andarilho. Duas amigas minhas estão nesse momento pela Colômbia –Valéria Lourenço e Rebecca Aletheia, esta cognominada de "negra viajante". Valéria também não fica para trás: já percorreu vários países africanos, resultando dessa experiência o belo livro de poemas "Aya’Ba" (Caos & Letras Editora, 2021).

No caso de Ouro Preto foi bem diferente desta vez. Eu não percorri a cidade feito um turista. Qualquer pessoa que se aborda e de quem se despede devolve: "bom passeio". Às vezes dá no saco isso, mas é parte da hospitalidade. Vivi particularmente uma aventura, tanto na ida, saindo de Belo Horizonte, onde passei uma bela tarde com o amigo Afonso Borges, tanto na volta, seguindo, depois, para o destino traçado.

Minas Gerais é tão grande e tão complexo. Imagina que, já partindo do terminal rodoviário Governador Israel Pinheiro, inaugurado em 1971, como "o maior e mais moderno da América Latina", hoje ultrapassado, comecei a viver meu drama. Estamos falando do estado com maior número de municípios da federação, 853, deixando para trás São Paulo, com 645, e Rio Grande do Sul, com 497.

Eu não consegui pegar o ônibus da Pássaro Verde (única empresa que faz o trecho Belo Horizonte-Ouro Preto). O tumulto, a partir do guichê, deixava qualquer investida e espera temerosas. Segui de táxi: o valor da corrida é aproximadamente dez vezes maior do que a passagem dessa condução.

A chegada a Ouro Preto, uma hora e meia depois, me aliviou, após o grande estresse. Fui recebido pelo casal Rosane Soares e Deivid Dias –ele "músico natural", da terra, da cidade; ela, "psicóloga empreendedora", uma carioca que fala um "mineirês" bem arretado e gostoso. Me hospedaram quase amigavelmente na pousada Minas Gerais, confortável e requintada.

Deixei de chorar o mal destino que estava tendo e fui gozar a boa vida ouro-pretana. A comida local, servida no restaurante Mr. Chef, e a sua cachacinha são as iguarias que mais me atraem. Eu me farto. Com o casal atuando como bons cicerones, desanuviou-me o clima pessimista adquirido pelo trajeto. Percorri as ruas, batendo o meu chinelo pelo calçamento centenário. Tenho satisfação de fazer isso. Outra coisa que me conforta: tocar nas paredes dos edifícios, onde está impressa, como um palimpsesto, toda a história de Minas Gerais ao tempo da riqueza —exploração do ouro, tráfico de escravos, Inconfidência Mineira. É algo que me fascina bastante.

Duas coisas ainda destaco de positivo nessa viagem de um final de semana, que, todos sabem, não dura nada: a visita à mina de Chico Rei, onde conheci a matriarca Marize, que me filou um charuto, e o atual dono do local, explorado turisticamente, Tuninho da Mina. O outro destaque foi a festa de aniversário do jovem influencer Thiago Henrique, realizada na casa onde morou uma parenta de Marília de Dirceu. Imagina uma festa onde os convidados chegam com as bebidas, sentam-se às mesas dispostas e são servidos pelo anfitrião? É isso mesmo. Fora as canjas, já que a maioria dos convidados é da música local —um pot-pourri que vai da MPB ao pior sertanejo. Uma diversão. Acrescento o arrasta-pé dos casais. Sensacional.

Mas minhas últimas horas na cidade foram, de novo, dramáticas. Primeiro porque eu não tinha comprado as tais lembrancinhas. E dá-lhe subir e descer ladeiras. A outra foi a compra da passagem de volta. A rodoviário de Ouro Preto simplesmente não existe. Para piorar, a empresa Útil, que me traria para São Paulo, tinha o sistema de bilhetes travado, o que me obrigou a pagar duas vezes uma mesma passagem (e cara), para embarcar à noite em um ônibus executivo, com banheiro fedido, parador e desconfortável. Foram 12 horas de sufoco e muito cansaço na chegada. Até agora não fui restituído do reembolso prometido.

Tirando isso, estou doido para voltar a Ouro Preto, fazendo o caminho de Belo Horizonte, onde tenho muitos amigos, como a artista plástica Bebel Miranda e o escritor Eduardo de Assis Duarte.

Aguardem por mim, cidades históricas e amigos de todos os tempos. Em breve, o bom viajante retorna ao torrão mineiro.

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