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Jornalista e escritor, é autor de "Carolina, uma Biografia" e do romance "Toda Fúria"

Descrição de chapéu Livros

Em 'Via Ápia', Geovani Martins recria desilusão com domínio narrativo

Autor expõe os altos e baixos da sociedade carioca, entre os anos de 2011 e 2013, época em que a história se desenrola

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São Paulo

Quando, em 2018, Geovani Martins lançou a coleção de contos "O Sol na Cabeça", ele ainda era um jovem escritor desconhecido na literatura brasileira. Surgido na esteira das oficinas da Festa Literária das Periferias (Flup), à época, sua estreia em livro causou grande sensação nos meios literários, sendo muito acolhido pelos leitores e pelos críticos, ganhando as páginas dos principais jornais do país.

Como um dos primeiros leitores do livro, Chico Buarque sentenciou: "Estou chapado". Já João Moreira Salles foi mais além e escreveu: "Uma nova língua brasileira chega à literatura com força inédita".

O livro, de fato, logo que chegou às livrarias, virou coqueluche: sucesso de público e de vendagem, imediatamente ganhou traduções para diversos idiomas, entre as mais prestigiadas casas editoriais do mundo, além de ser vendido para adaptação para o audiovisual.

O escritor Geovani Martins durante a Festa Literária Internacional de Paraty - Marcus Leoni/Folhapress

Geovani Martins é cria de Bangu, bairro suburbano do Rio de Janeiro, mas também morou na Rocinha e ainda mora no Vidigal, comunidades faveladas da zona sul da cidade. Profissionalmente, fez de tudo na vida antes de ser o escritor que é hoje: foi "homem-placa" –algo semelhante a essas pessoas que ficam com uma tabuleta pendurada no corpo comprando ouro ou anunciando estacionamento para carros—, atendente de lanchonete e vendedor em barracas de praia.

Agora ele surge com seu novo livro: o romance "Via Ápia". Quem leu cada um dos 13 contos da obra anterior –especialmente "Rolezin" e "História do Periquito e do Macaco"— vai logo se conectar com as aventuras dos irmãos Washington e Wesley numa Rocinha do antes, durante e depois da instalação da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP), o famigerado projeto implantado pelas forças de segurança do governo do estado do Rio de Janeiro na região.

Juntam-se aos irmãos outros três jovens amigos: Douglas, Murilo e Biel. Os cinco, com todos os perrengues que a vida lhes oferece, vão viver os momentos cruciais entre a glória e o declínio da maior operação antidrogas já testada pelas autoridades, como parte da guerra de combate ao crime.

Além de empreender com total segurança a escrita de uma história longa e tão envolvente, Geovani Martins expõe os altos e baixos da sociedade carioca, entre os anos de 2011 e 2013, época em que a trama se desenrola.

Os principais personagens são pessoas comuns, que vivem à margem da sociedade, lutando contra um sistema que oprime e mata, sobretudo pobres, pretos e favelados.

O romance, dividido em três partes, nos leva a vivenciar os dramas, a desilusão e os amores de cada um, ao mesmo tempo em que nos mostra as fissuras de um Estado que atua em camadas —reproduzindo as ofertas de bons serviços aos que detêm todos os privilégios sociais e financeiros, em detrimento daqueles que, em sua maioria, continuam marcados pelo descaso e o abandono secular.

Com "Via Ápia", Geovani Martins oferece um grande romance urbano e existencial. O cenário desafiador da Rocinha, uma das favelas mais populosas da cidade do Rio de Janeiro, é um dos pontos relevantes para refletir sobre a vida desses jovens e de todos os semelhantes a eles no país, favelados ou não.

Do ponto de vista literário e estético, "Via Ápia" mantém o alto domínio narrativo de Geovani Martins, amplamente festejado em "O Sol na Cabeça", firmando-o entre os mais talentosos autores de sua geração.

Seja pela linguagem bem coloquial —"Hã, tinha que ver menó, mó terrozinho do caralho", "Menó, pra tu te noção, podia nem sair ali pra fumar cigarro" ou "Aí brotou do nada três policia lá, eles vinha de alguma operação, eles"—, seja pela estrutura, com capítulos não muito longos, três ou quatro páginas cada, o livro é fácil de ler e prende pelos detalhes e pelos lances bem cinematográficos.

Sem dúvida, Geovani Martins nos manda um papo reto direto e sem rodeios. "Via Ápia" –título que, na verdade, faz referência à principal e mais célebre rua da Rocinha, conhecida por sua grande movimentação de gente e comércio— é um ótimo rolezinho para fugir do estresse desses tempos de falsos padres e de genocidas travestidos de messias.

Via Ápia

Avaliação:
  • Quando: Lançamento nesta quarta (5), às 19h
  • Onde: Na Livraria da Vila - r. Fradique Coutinho, 915, Pinheiros, São Paulo
  • Autor: Geovani Martins

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