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Jornalista e escritor, é autor de "Carolina, uma Biografia" e do romance "Toda Fúria"

Livro resgata Gustavo de Lacerda, fundador da Associação Brasileira de Imprensa

Historiador catarinense dimensiona história de personagem importante, mas esquecido

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"Quem foi Gustavo de Lacerda?" Essa pergunta, formulada pelo historiador Fábio Garcia, norteia toda a concepção do livro "Gustavo de Lacerda: vida e obra de um jornalista negro catarinense", da Coleção Ensaios Afro-biográficos publicado pela Cruz e Sousa Editora.

Sem dúvida, esse é um livro que emerge do cerne das feridas causadas pelo longo processo de escravidão brasileira, por diversos motivos. Aqui, infelizmente, não é possível elencar todos esses motivos nem os colocar de forma detalhada, como eu gostaria.

Um dos seus importantes alicerces seria: como o racismo no Brasil alcançou sistemas diferenciados de servidão —por regiões e por formas de realocação da mão de obra escravizada em nossa sociedade. Pensar em um personagem real negro como Gustavo de Lacerda, que viveu na segunda metade do século 19 no sul do país, é uma tarefa por demais meritória e corajosa, como a empreendida pelo ensaísta catarinense. É isso o que essa pequena obra nos apresenta, em rápido esboço, e nos faz refletir.

Livro 'Gustavo de Lacerda', da coleção Ensaios Afro-biográficos (Cruz e Sousa Editora) - Reprodução

Gustavo de Lacerda (1854-1909) ficou conhecido apenas como fundador da Associação Brasileira de Imprensa, criada um ano antes de sua morte, no Rio de Janeiro. Esse "apenas" vem muito ao caso, como se fosse pouco na trajetória de um homem público e lutador das causas sociais. Hoje a ABI é uma das instituições mais importantes na defesa da democracia do país. Lacerda foi, no final do século 19 e início do 20, um destacado militante de movimentos sociais políticos, até então inovadores no país, como os ligados à causa operária e ao socialismo.

Reduzir, no entanto, a militância política, e pioneira, de Gustavo de Lacerda apenas à fundação da ABI é pouco, embora só esse fato já seja grandioso, como atesta Fábio Garcia no livro.

Mas Garcia também dimensiona outros aspectos, inéditos ou pouco conhecidos, da vida do aguerrido jornalista catarinense. O fato de ser negro é outro relevante fator. Há ainda uma correlação de parentesco, ainda não provada, de Lacerda com o poeta simbolista Cruz e Sousa.

No livro, Garcia refaz a linha genealógica do jornalista e traz elementos novos, bem elaborados e argumentados, com base em fontes primárias, relatos e registros de batismo e óbito, que possibilitam atualizar aspectos da vida e do percurso de Lacerda.

O que se depreende desse trabalho é a ampliação da importância histórica e literária do autor, injustamente não estudado. Agiu também politicamente —chegou a se candidatar a cargos eletivos, de deputado e intendente municipal—, com seu nome sempre relacionado em ações envolvendo questões educacionais e trabalhistas, organizando "matinées populares" e "festa do trabalho".

Esteve à frente da fundação de diversas "ligas operárias", de caráter "radical". A pauta socialista era parte do programa orientador dessas organizações, em geral efêmeras, assim como os inúmeros jornais que criou ou colaborou.

Costumava escrever algo que tinha esse tipo de teor, condição que formulava, sempre que participava de alguma coisa envolvendo a classe operária, ao lado de seu parceiro, o jurista negro Evaristo de Moraes: "Quando as condições de existência do operário na sociedade forem compatíveis com a equidade e a justiça, o bem-estar será comum a todos os homens".

Mas nem só de textos jornalísticos viveu Gustavo de Lacerda. Sua militância também o levou à literatura. Ligado, no Rio de Janeiro, ao grupo catarinense chefiado por Oscar Rosas e Cruz e Sousa, com quem chegou a se corresponder —sob forte influxo simbolista—, a produção literária de Lacerda também incursionou pelo conto e peças de teatro. Pelo menos quatro livros de sua autoria chegaram a ser anunciados nos jornais, mas se perderam. Entre eles está um romance publicado em forma de folhetim em "O Progresso", de 1882.

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