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Cronista esportivo, participou como jogador das Copas de 1966 e 1970. É formado em medicina.

Descrição de chapéu Seleção Brasileira

Uma ótima equipe precisa ter inteligência coletiva

Brasil, contra o Uruguai, mostrou uma nova e promissora cara

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Uma ótima equipe não é apenas a união de bons jogadores com uma eficiente estratégia e muita vontade de vencer. É necessário algo mais, uma identidade, uma inteligência coletiva, que saiba o que quer, que execute bem o que foi planejado, que valorize o adversário e que crie opções para o momento certo, na mesma partida ou em partidas diferentes.

Assim como uma equipe, os jogadores, individualmente, necessitam definir o que desejam, com o olhar também para os companheiros. A consciência é o conhecimento de si e do outro. Não vivemos isolados no mundo.

O Brasil, contra o Uruguai, mostrou uma nova e promissora cara coletiva. Alternou a marcação mais adiantada com a mais recuada, marcou com duas linhas de quatro e atacou sempre com muitos jogadores. Paquetá, pela esquerda, entrava em diagonal, para ser um meia armador e deixava Neymar livre, para jogar mais à frente, mais perto da área adversária do que do meio-campo.

Posicionamento de Paquetá deixou Neymar livre - Nelson Almeida - 14.out.21/AFP

Já o Uruguai, que sempre teve uma grande defesa, perdeu a identidade coletiva ao ser derrotado pelo Brasil (4 a 1), pela Argentina (3 a 0) e pelo Equador (4 a 2). Em outros tempos, quando tinha menos jogadores habilidosos no meio-campo, a equipe marcava muito atrás, contra-atacava e, geralmente, vencia, com dois ótimos atacantes. Agora, não sabe se avança ou se recua e deixa muitos espaços entre os setores.

A grande evolução da Argentina foi coletiva, ao criar uma identidade, a da aproximação dos jogadores, com troca de passes desde a defesa até o ataque. Messi, pela primeira vez, sente-se em casa. O time, sem comparar o talento individual, joga de uma maneira parecida com a do Barcelona, com Guardiola, quando a equipe catalã trocava muitos passes, com Busquets, Xavi, Iniesta e Messi.

O time que eu mais gosto de ver jogar, o que não significa que seja o melhor, é o Manchester City, pelo show de passes trocados de uma área à outra. Contra o PSG, pela Liga dos Campeões, o City dominou a partida, ficou com a bola, criou chances de gol e perdeu. Do outro lado, estavam Mbappé, Neymar e Messi. Guardiola deve ter se lembrado dos tempos de Bayern de Munique, quando o time alemão, jogando melhor, foi eliminado pelo Barcelona de Messi e pelo Real Madrid de Cristiano Ronaldo.

Manchester City dominou, mas foi o PSG que venceu - Franck Fife - 28.set.21/AFP

Os times brasileiros, por causa da excessiva troca de técnicos, pelo péssimo calendário e pela falta de sabedoria de muitos treinadores, têm enormes dificuldades de formar equipes coletivamente fortes, com maneiras definidas de jogar. O Palmeiras, que teve ótimos momentos atuando mais recuado e no contra-ataque, vive uma indefinição, sem saber se mantém essa postura ou se tenta ter o domínio da bola e do jogo, como muitos pedem. O retorno de Dudu, que reforçaria o time, tem sido motivo para Abel Ferreira ficar confuso sobre a melhor maneira de jogar?

Assim como as equipes, cada atleta ou pessoa tem seu jeito de viver e de fazer. A repetição é importante para melhorar a técnica, mas, quando excessiva, empobrece o jogo e a vida. Os artistas e os poetas nos ensinam que a vida pode ser diferente, mais interessante, e que “a arte existe porque a vida não basta” (Ferreira Gullar).

Álvaro de Campos, um dos 127 heterônimos de Fernando Pessoa, autor do poema “Tabacaria”, o mais fascinante que já li, escreveu: “Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou? Sei o que penso? Mas penso ser tanta coisa!”.

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