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Coordenadora da Associação de Defesa Etnoambiental - Kanindé e do Movimento da Juventude Indígena de Rondônia

Por uma justiça anticolonial

No caso da estátua do Borba Gato, clamamos por justiça antirracista e que esteja atenta a um presente que demanda por reescrever a história

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Na semana em que Bolsonaro garante indulto aos assassinos do Massacre do Carandiru, Paulo Galo é condenado pela defesa da memória antirracista em São Paulo, por ter queimado a estátua do bandeirante Borba Gato, que matou nossos antepassados indígenas, mas ainda é exaltado como símbolo do "desenvolvimento" do país.

A figura sertanista do período colonial é circundada de heroísmo. Figuras como Borba Gato se mostram presentes em praças e avenidas. Todavia, por trás das estátuas, a atuação bandeirante guarda a violência, a opressão e a subordinação como tríade de combate às populações originárias.

As interiorizações bandeirantes foram marcadas por perseguição, escravização, genocídio e venda de indígenas e negros, além do roubo de terras.

No país que oprime tudo o que se afasta do padrão branco e eurocentrado, a transformação da história marcada pela agressão em histórico dourado apaga injustiças e glorifica um símbolo que agride a vivência daqueles que, como cantou Mangueira, fazem parte da "história que a história não conta".

Nas palavras de Galo, "há mais de 500 anos que povos africanos e indígenas são mortos, torturados, e mulheres são estupradas e seus úteros utilizados como fábrica de mão de obra para continuar a fazer esse sistema de injustiças uma realidade imposta a nós".

Para o advogado de Galo, André Lozano Andrade, a decisão do Judiciário reproduz essa dinâmica de apagamento e é problemática porque demonstra "não termos superado o contraste social e racial desde o tempo dos bandeirantes". Ele aduz ao que ocorreu recentemente em Brasília, quando manifestantes da extrema direita realizaram atos golpistas, escancarando esse desbalanço.

Afinal, como ele diz, "de um lado tivemos dois negros que chegaram a ser presos acusados de chamuscar uma pedra, de outro temos pessoas brancas colocando fogo em carros, atacando hotéis e prédios públicos e ameaçando pessoas com assustadora leniência da polícia".

Galo quer e merece justiça. Segundo ele, "o erro é o nosso Judiciário não ter a capacidade de entender hoje o quão estão errados, como antigamente também não entendiam que tráfico humano, genocídio e escravidão eram erros".

Então, se o erro persiste, é hora de superá-lo. Clamamos por uma justiça que seja antirracista, anticolonial e que esteja atenta a um presente que demanda por reescrever a história.

Qual memória pretendemos exaltar? A do algoz que esconde em suas botas a violência da colonização ou a do povo que, resistindo desde 1500, merece viver sem ter que lidar com o trauma colonial em toda esquina?

Colaboraram Gabriel Mantelli, advogado de direitos humanos e doutorando em direito pela USP, e Isabela Bicalho,pesquisadora e graduanda em direito pela UFU

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