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A coluna é assinada pelo jornalista Mauro Zafalon, formado em jornalismo e ciências sociais, com MBA em derivativos na USP.

Mais um ano de renda no campo, mas com desafios, alerta o Itaú BBA

Setor de grãos vai bem, mas o da pecuária nem tanto; algumas empresas podem ficar pelo caminho

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Os produtores se preparam para uma nova safra agrícola, a de 2021/22. E, mais uma vez, a rentabilidade deverá ser favorável, apesar dos novos custos que estão vindo.

A demanda continua elevada e a oferta é apertada, o que mantém os preços favoráveis na agricultura. O mesmo não ocorre com a pecuária, que terá desafios maiores. Os custos da ração, devido ao preço dos grãos, e dos bezerros vão reduzir as margens no setor.

Essas previsões são dos analistas do Itaú BBA, apresentadas nesta quinta-feira (17).

As previsões são boas, mas há pontos que exigem atenção. Quem fixou o produto não maximizou o resultado neste ano. Agora, o produtor está postergando a fixação e pode correr perigo, diz Pedro Fernandes, diretor de Agronegócios da instituição financeira.

Do lado da macroeconomia, as notícias são positivas, segundo Pedro Renault, economista do Itaú Unibanco. A pandemia já está sendo controlada no mundo, e há uma retomada da economia.

A demanda vem crescendo, embora haja uma deficiência na oferta de determinados produtos, tanto na indústria como no campo.

A pressão da inflação global é temporária, mas os preços não cairão rapidamente. Os juros sobem nos Estados Unidos em 2023, e o dólar se fortalece no mundo.

A economia brasileira mostra resiliência e deverá avançar 5,5% neste ano, segundo Renault. A Selic termina o ano em 6%, e o dólar, em R$ 4,75.

Para Guilherme Pessini, superintendente de Agronegócios do Itaú BBA, o cenário foi tão bom para o produtor neste ano que será difícil melhorar ainda mais. Mas, apesar dos custos, ele terá mais um período de boa rentabilidade.

A pujança no setor de grãos é tanta que repassa custos para o setor de proteínas, principalmente para os suinocultores, afirma o superintendente.

Fora da porteira, o setor sucroenergético tem bons preços e demanda maior, mas a indústria de proteínas convive com um ambiente desafiador, principalmente no que se refere ao mercado interno.

Pessini alerta, no entanto, que a guerra contra a pandemia ainda não está ganha. É necessária a preservação de bom nível de liquidez e ter cautela nos investimentos.

Para ele, 2022 poderá ainda ser um período de volatilidade e são necessários cuidados com custos e receitas. O setor está vindo, contudo, de um ano bom e entrando em um outro com boas perspectivas, afirma.

Para Guilherme Bellotti, gerente da Consultoria Agro do Itaú BBA, a soja terá mais um ano de bons preços. A oferta e a demanda estão apertadas, apesar do aumento de produção. Com base nos fundamentos do setor, não há espaço para quedas intensas em Chicago.

Os estoques mundiais representarão 24% do consumo na safra 2021/22, um patamar baixo em relação aos dos anos anteriores. Há três anos, eram superiores a 30%.

O Brasil produzirá 141 milhões de toneladas de soja na próxima safra, com perspectivas de exportar 86 milhões. Os custos de produção agrícolas deverão somar R$ 3.157 por hectare, e as margens, R$ 4.538.

O Itaú BBA leva em consideração uma produtividade média de 57 sacas por hectare e preço médio de R$ 135 por saca. Os dados se referem ao sudeste de Mato Grosso.

Bellotti afirma, no entanto, que há alguns contratempos para o setor. O consumo de fertilizantes vai crescer para 43 milhões de toneladas, podendo gerar problemas na logística e nos custos.

Além disso, a Índia, grande fornecedora de defensivos agrícolas, passa por um período de intensificação da pandemia.

O balanço mundial do milho também estará apertado na safra 2021/22, o que garantirá preços mais consistentes. A produção mundial será de 1,19 bilhão de toneladas, com consumo de 1,18 bilhão.

No Brasil, apesar da estimativa de produção de 119 milhões de toneladas, a oferta do cereal será apertada, pelo menos até o final da safra de inverno do próximo ano.

Isso garantirá, mais uma vez, um cenário de margens positivas para o produtor, mesmo com a elevação substancial dos custos, na avaliação de Bellotti.

Os preços do algodão também apontam para alta no período, devido ao balanço deficitário em 2021/22. A demanda está acima do esperado.

Uma das novidades é o maior aproveitamento do caroço de algodão, que substitui o farelo de soja. Este está com preços elevados. Há um ano e meio, a tonelada de caroço de algodão valia R$ 400. Atualmente, está em R$ 1.800.

Na pecuária bovina, César de Castro Alves, especialista da Consultoria Agro do Itaú BBA, diz que o cenário é bom para o criador, mas difícil para os frigoríficos. E há um elemento novo no setor, a apreciação cambial.

O pecuarista tem um custo pesado na reposição do boi abatido, ao adquirir o bezerro. Já o frigorífico tem dificuldade de repasse da alta de custos, principalmente no mercado interno.

Segundo Alves, o produtor deverá ter muita atenção com os preços do sistema de recria e engorda. O sentimento altista pode ir além do saudável, afirma.

No setor de suínos, o cenário é bastante desafiador, principalmente no mercado interno. Os custos subiram muito, e os preços cederam.

As perspectivas de exportação são boas em 2022, mas o setor precisa ficar atento ao ritmo de aceleração das vendas externas. China e Hong Kong ficam com 65% das exportações brasileiras. Até quando?, pergunta o analista do banco.

Para Alves, o desafio no setor de avicultura também é grande. O estoque de grãos e de farelo baratos já acabou no armazém das empresas, e as compras atuais trazem novos custos. O repasse de preços para o consumidor vai continuar, mas o setor ainda mantém produção acelerada.

A saída é a exportação. A elevação dos preços do petróleo pode até compensar a apreciação do câmbio, mas a travessia desse momento é preocupante para algumas empresas.

Elas terão de ter liquidez e estratégia no segundo semestre. Caso contrário, algumas poderão ficar pelo meio do caminho, alerta Alves.

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