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Devastada pela segunda onda da pandemia, Índia acumula milhares de órfãos

Crianças que perdem os pais são exploradas e oferecidas em adoções ilegais

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Nova Déli | AFP

Três dias após a morte do pai pela Covid, as gêmeas Tripti e Pari, de seis anos, dormiam ao lado de sua mãe sem saber que ela também havia sucumbido à doença e que elas haviam ficado órfãs. Depois de baterem em vão, familiares jogaram água pela janela para que as meninas acordassem e abrissem a porta. Desde o início da pandemia, 283.248 pessoas morreram na Índia, das quais 4.529 na quarta (19).

Crianças caminham na chuva em Allahabad, na Índia - Sanjay Kanojia - 19.mai.21/AFP

Milhares de crianças perderam ao menos um dos pais nesta segunda onda que devasta a Índia. O país já contava com milhões de órfãos e, agora, esse número adicional de crianças abandonadas se torna cada vez mais preocupante. As crianças deixadas órfãs pela Covid-19 "não vivem apenas uma tragédia emocional, elas correm o risco de sofrer negligência, abuso e exploração", alerta Yasmin Haque, representante do Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) na Índia.

Tripti e Pari foram acolhidos pelo tio de sua mãe. "Sempre digo às meninas que seus pais voltarão", diz Ramesh. Os nomes dos três foram trocados para manter a segurança das meninas. "Não quero contar a verdade para elas por enquanto [...] são pequenas demais", acrescenta.

Após a morte de seu marido, a mãe das meninas, abalada e doente com Covid-19, parou de se alimentar.

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Em abril, no estado de Maharashtra, a imprensa local noticiou que um bebê foi encontrado nos braços da mãe, morta por coronavírus havia 48 horas, sem que ninguém quisesse intervir por medo de se infectar.

"Ignoramos o número de mortos, e menos ainda o de órfãos", afirma Akancha Srivastava, especialista em segurança cibernética, que criou uma linha telefônica de assistência dedicada a ajudar crianças cujas famílias estão sendo afetadas pela doença.

Pedidos de doação de leite e comida para bebês que perderam a mãe inundam as redes sociais, nas quais crianças são oferecidas ilegalmente para adoção.

"Embora ainda não tenhamos números, observamos a emergência de ofertas de adoção ilegal nas redes sociais, o que torna os órfãos vulneráveis ao tráfico e a maus-tratos", advertiu Yasmin Haque, do Unicef.

De acordo com a lei indiana, a condição de órfão deve ser verificada por um funcionário do governo antes que a criança seja colocada em uma instituição, caso nenhum membro da família puder recebê-lo.

Neste mês, a ministra indiana da Mulher e do Desenvolvimento Infantil, Smriti Irani, lembrou que as ofertas de adoção, fora do circuito oficial, são ilegais e escondem armadilhas. A agência de notícias AFP recebeu uma oferta de adoção no WhatsApp, sob o título "crianças brâmanes", que oferecia uma menina de dois anos e um menino de dois meses, sugerindo que ambas as crianças pertencem à casta superior indiana.

Depois, esse número foi desativado e está sendo investigado. Segundo a Fundação Protsahan India, uma ONG de defesa dos direitos da criança, muitos órfãos são obrigados a trabalhar, exercendo, por exemplo, algum tipo de comércio nas ruas. "É uma geração em extrema dificuldade, que enfrenta traumas graves e que se tornarão adultos devastados", alerta a fundadora da instituição, Sonal Kapoor.

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